18 de abril de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XXXVII


Pela manhã, bem cedo, gosto
Do som das pombas que atropelam o telhado
Do som do elevador que anuncia vida
Do sol que desperta e espreita na janela ainda fechada
Da chuva que bate na vidraça
Do despertador que eu desperto
Do cheiro das torradas
Do sabor amargo do café

Pela manhã, que já vai longa, gosto
Da mulher que, à janela, sacode o pó
Do pai que, na varanda, embala o filho
Da criança que, no baloiço, voa para o futuro
Das aves que riscam o espaço e me espreitam
E eu espreito-as e invejo-as.

Como as aves, quero voar
Mas, talvez seja melhor adiar!...

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