31 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LVI
24 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LV
“Estamos a braços” com uma situação complicada, é certo, mas não vamos “baixar os braços”, mesmo “estando em brasa”. Temos de “fazer das tripas coração” e dedicarmo-nos “de alma e coração” a um projeto que nos mantenha a saúde mental.
22 de maio de 2020
DIA DO AUTOR PORTUGUÊS
20 de maio de 2020
18 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LIV
15 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LIII
São momentos assim que não nos deixam ir abaixo quando o que apetece é gritar bem alto e insultar o bicho!
UM DESAFIO, UM PRÉMIO
13 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LII
"Escrevo porque o meu pai lia. Vejam-me na sala da casa de então, os móveis escuros, escuro eu também atrás do cadeirão. Sou o miúdo a quem a mãe diz: não grites, que o papá está a ler; não corras pelo corredor, que o papá está a ler; baixa a televisão, que o papá está a ler... O papá está a ler. O papá não faz outra coisa senão ler."
Este é o primeiro parágrafo de A minha verdadeira história, um romance que se lê de um fôlego, por ser muito pequeno e pela força da narrativa que nos impele a chegar ao fim.
Um adolescente de 12 anos quer ser escritor porque o pai é um leitor que lê ininterruptamente. Só assim, o pai dará por ele, quando o ler, porque, na vida real rejeita-o, nem sabe que ele existe. A mãe contribui para isso, pois está constantemente a mandá-lo calar e a estar quieto porque o pai está a ler.
Este adolescente que se quer suicidar, precisamente porque o pai o ignora, atira um berlinde de vidro do alto de uma ponte (onde se deslocou várias vezes para se suicidar) o qual bate num carro, onde viaja uma família de quatro pessoas, provocando a morte de três elementos desta família (o casal e o filho).
Descobrindo, na estante do pai, os livros O idiota e Crime e castigo, ambos de Fiódor Dostoiévski, logo se imagina o protagonista destes livros e, assim, desenvolve a sua verdadeira história, mas sem nunca ter lido livro algum. No seu ponto de vista, ninguém é mais idiota do que ele e vive obcecado com o "crime" que cometeu, passando a vida à espera do castigo. Tão obcecado pela culpa, que não descansa enquanto não trava conhecimento com a única pessoa que sobreviveu, uma menina da sua idade, com uma prótese numa perna e de cara desfigurada.
10 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LI
- Gaba-te, cesta, que vais à vindima! - exclamou um dos vestidos, o mais vaidoso. - Não fosse a chuva e trovoada de sábado, vocês veriam quem teria saído do armário para a festa de aniversário. Teria sido um de nós, certamente!
- Ou eu! disse a saia castanha de seda. - Afinal, continuo aqui, tão virgem como no dia em que fui comprada!
9 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO L
7 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XLIX
5 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XLVIII
3 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XLVII
2 de maio de 2020
DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XLVI
Finalmente um tempinho extra para escapar do computador e fazer frente aos armários. Parece que a primavera, que tinha chegado e virado costas, vai voltar de vez. Então, chegou a hora de rever os armários da roupa e do calçado.
- É da maneira que nós saímos mais vezes - regozijaram-se as tshirts.
- Vede o que eu senti quando ela me vestiu, para ir dar aula, e, logo de seguida, combina-me com umas leggings manhosas! - disse irritada uma túnica de seda com peito de renda.
- E, se não sois vós a sair do armário, somos nós. Conforto maior não há! - desta vez foram os pijamas a falar, inchados de orgulho.
- Eu nem digo nada! - queixou-se uma saia-calça de seda, totalmente virgem. - Fui comprada um pouco antes do confinamento e fiquei aqui confinada neste armário, sem vos conhecer, sem uso, sem saber o que é sentir o vento, a chuva ou o sol. Fui comprada e nunca usada. No entanto, tenho esperança que amanhã, como é o Dia da Mãe, possa ser usada e perder a minha virgindade! Mas, se ela me usa e me combina com os chinelos, estará o caldo entornado!!!
....
Não! Estou a sonhar, só pode. Não estarei assim tão maluca. Vou sair, dar uma volta ao quarteirão e respirar ar puro! Uma semana inteira de chuva e frio metida em casa não pode dar bom resultado!!!!
1 de maio de 2020
LEITORES, LEITURAS E BIBLIOTECAS
Enquanto leitora, desde que aprendi a ler, e professora, há muitos anos, não suporto a expressão, tantas vezes usada (inclusivamente nas escolas), “leitura obrigatória”. O adjetivo “obrigatória”, por si só, já afasta qualquer vontade de ler.
Não poderia estar mais de acordo com o filósofo e escritor espanhol Fernando Savater quando, numa entrevista conduzida pela jornalista Ana Sousa Dias, diz que os prazeres se contagiam, não se impõem, e que os jovens devem ser introduzidos na leitura de uma forma lúdica e não forçada para que, começando com obras mais acessíveis, aos poucos, passem para obras mais complexas.
Então, mais do que obrigar a ler (até porque o verbo ler, como disse Daniel Pennac, não suporta o imperativo), importa sugerir, mostrando os livros (capas, sinopses, booktrailers…), promover fóruns de leitura em sala de aula, falar dos livros e comprovar que têm magia, que vão dar prazer e divertir, que vão fazer sentir, que vão permitir viajar e viver de forma diferente. E vão dar a conhecer tantas vidas que vivem dentro deles.
E muitas são as atividades possíveis para que estes objetivos, definidos pelo mediador de leitura, sejam alcançados.
Um mediador de leitura que queira contagiar deve, voltando a citar Savater, “inteirar-se não dos livros que ele quer que o miúdo leia, mas, sim, dos livros que o miúdo quer ler”, facilitando o diálogo entre os livros e o leitor.
Não há mediador de leitura que leve os outros a ler se não conhecer profundamente os livros para os adequar ao gosto pessoal de cada futuro leitor, que não fale com paixão sobre eles, que não use técnicas de persuasão. Falar de um livro com imenso entusiasmo é o caminho certo para que o recetor ganhe vontade de o ler.
Enquanto professora de português, começo o ano letivo levando um saco de livros para a sala de aula, para os alunos começarem a fazer as suas escolhas. No blogue que mantenho para as minhas turmas são, também, sugeridas leituras de acordo com os seus interesses, a sua faixa etária, ou relacionados com conteúdos programáticos.
Após fóruns de leitura, em sala de aula, já vi alunos saírem da sala a correr (literalmente) para irem à biblioteca buscar o livro que acabou de ser apresentado.
Já vi uma aluna chorar porque era a única na turma que não estava a ler um livro, por isso não tinha nada para partilhar, ao contrário dos colegas que falavam com entusiasmo do livro que estavam a ler.
Já ouvi uma aluna dizer, cheia de emoção, que quando tivesse um filho lhe daria o nome da personagem do livro que tinha acabado de ler, de tal maneira a marcou. Chamar-se-ia Shmuel, como o miúdo judeu do livro O rapaz do pijama às riscas.
As visitas à biblioteca escolar, pelas turmas, são fundamentais para que os alunos possam escolher os títulos, a partir da apresentação de um conjunto de livros de temas e géneros variados, que contribuam para lhes despertar a curiosidade pela leitura, assim como alargar o seu conhecimento de títulos que, provavelmente desconhecem. E os momentos de leituras para as crianças são únicos. É um prazer enorme ouvir os alunos - “Gostei tanto deste livro!" - e vê-los, de seguida, a quererem requisitar o livro que acabou de ser lido.
Tudo isto não acontece por acaso. É preciso envolver os alunos, antes, durante e depois da leitura, com atividades e técnicas variadas e sedutoras que captem a sua atenção e interesse. É preciso mostrar, assim como quem não quer nada, que entrar numa biblioteca é entrar num lugar mágico, é entrar num lugar onde se concede a todos os cidadãos a oportunidade e o prazer de serem andarilhos pelo mundo.
Para concluir, mais uma vez concordo com o grande pensador Fernando Savater: “ler também é diversão”. Pena que muitas pessoas não o tenham descoberto. Mas estão sempre a tempo!