16 de abril de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XXXV

Troveja. Parece que o ar cinzento e pesado ralha com o maldito vírus que continua a matar. Hoje, levou o escritor chileno Luís Sepúlveda e a literatura sofreu uma pancada.
Chove. E esta chuva pesada não alivia a sensação de frustração pelos tempos que vivemos e para os quais não estamos preparados. Nem estaremos nunca. E as gotas da chuva que escorrem, metáfora das lágrimas que gostaria que escorressem cara abaixo e não consigo que escorram, não aliviam nem lavam a alma.
Aparentemente há paz lá fora, na paisagem vista da minha janela. Mas, será apenas a paz que há de ser. Não existe paz nos corações que saltam de medo na iminência do risco.
Luís Sepúlveda partiu. A sua obra fica. Uma obra onde o autor nos leva a passear pela Patagónia, pelo Chile Austral, em defesa das baleias, pelo cais de Hamburgo (onde amamos gatos que amam gaivotas) e por Munique (onde amamos gatos que fazem amizade com ratos), nos ensina a ler romances de amor e a importância da lentidão.
E, como escreveu Fernando Pessoa, se "A morte é a curva da estrada/morrer é só não ser visto", acredito que este grande escritor e, segundo dizem todos os que o conheceram pessoalmente, um grande ser humano, será encontrado na curva de qualquer estrada, que é como quem diz, de qualquer biblioteca, de qualquer livraria.



Sem comentários: