27 de janeiro de 2017

HORA DO CONTO PROMOVIDA PELA JUNTA DE FREGUESIA DE S. JOÃO DA MADEIRA

A Junta de Freguesia de S. João da Madeira decidiu animar a sua biblioteca, em Fundo de Vila, com uma hora do conto mensal, que decorrerá na última quinta feira de cada mês,
Coube-me dinamizar a primeira, ontem. E foi uma animação com O santo guloso como pretexto.
Uma iniciativa de louvar, pois todas as atividades que levam os livros às crianças, as viciam na leitura e as levam a querer saber mais são fantásticas.

Mais informação pode ser lida aqui.





26 de janeiro de 2017

CREPÚSCULO

Cai o crepúsculo. 
Cegonha entre nuvens 
E o inverno acontece.

O QUE ACABEI DE LER

Morreste-me choca pela intimidade. Choca-me pela violência da dor. Choca-me por me rever nele. Choca-me por eu não ser capaz de escrever assim. 
Há palavras que não se sabem. 
Há palavras que não se pensam. 
Há palavras que não se dizem. 
José Luís Peixoto soube pensá-las, senti-las e dizê-las magistralmente apesar de as ter escrito ainda tão jovem. Mas, parece que uma perda tão sentida faz crescer, amadurecer e ver a vida com outros olhos. 
"E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os dias? assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.” (pág. 12/13) 
Neste livro tudo é dor porque “Tudo o que te sobreviveu me agride”: 
• A violência do hospital 
• A doença 
• O lugar na mesa, vazio 
• As memórias: “Deixaste-te ficar em tudo.” 
• Os espaços 
• As dádivas 
• As saudades
• As roupas que ficaram 
• Os objetos encontrados na gaveta
E, sobretudo, “a certeza de não te perder e perdi-te.” 
No fim, depois de tudo, depois das voltas dos ponteiros do relógio, o que fica? 
Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei.”

Nota: Este foi o livro de leitura partilhada no Clube de Leitura da BM de S. João da Madeira, em janeiro de 2017.

24 de janeiro de 2017

PROMESSAS...

Viveu uma juventude politicamente comprometido com a mudança. Fora um ativista.
Agora, quase velho, sem nada para fazer, sentia-se um destroço. 
Naquela noite, enquanto engolia as passas, soube que precisava de dar passos para recuperar a energia que lhe fugia. Foi enumerando o que iria fazer. Voltaria a colar cartazes, a denunciar, a agir junto dos desfavorecidos. 
O ano acordou preguiçoso e contagiou-o. 
Os ponteiros do relógio giraram, o ano terminou. Ele olhou para trás. Nada viu.

13 de janeiro de 2017

ENCONTRO COM ALUNOS NO AGRUPAMENTO COELHO E CASTRO

Hoje voltei, como autora, a um agrupamento onde fui muito feliz como professora, durante quatro anos: O Agrupamento de Escolas Coelho e Castro, Fiães. E foi com enorme satisfação que vi o meu livro O santo guloso trabalhado de forma fantástica por alunos e professores, quer da educação especial quer do 6ºano. A partir da sua leitura, uma professora escreveu uma cantilena e os alunos fizeram outros textos (incluindo quadras rimadas, um microconto em 77 palavras, trava-línguas, acróstico), palavras cruzadas, ilustração e trabalho de pesquisa que compilaram numa pequena revista intitulada Letras inclusivas.


Além disso, foi feito, também, trabalho de expressão plástica que incluiu a maquete do castelo de Santa Maria da Feira, miniaturas de fogaça (comestível e decorativa) e um puzzle em cortiça com a imagem da capa.
Mas, o melhor de tudo, foi o carinho, a atenção e o prazer demonstrado pelos alunos da educação especial que tão bem me acolheram.
Há dias assim: em que uma pessoa sai de casa e entra de alma cheia.

12 de janeiro de 2017

EU SABIA QUE ERA CAPAZ! - VERSÃO 2

Rosália sabia que tinha sido roubada.
Afonso roubou-lhe o coração, depois a virgindade e, finalmente, a vontade de continuar a ser jovem e de voar. Em troca, ofereceu-lhe desamor.
Viveu na sombra de um canalha sem escrúpulos. Quanto tempo? Disso perdeu a noção.
Mas, um dia, Rosália quis ser onda e espraiar-se no seu corpo. Fez ouvidos de mercador aos sentimentos negativos. Mudou a fechadura, passou uma esponja no passado e gritou:
-Eu sabia que era capaz!

Desafio Rádio Sim nº 45, da Margarida Fonseca Santos 

EU SABIA QUE ERA CAPAZ! - VERSÃO 1

Desafio Rádio Sim nº 45, da Margarida Fonseca Santos 
Ela andava "com os azeites". O telemóvel tocava vezes sem conta, ela verificava o número e desprezava-o.
- Vai-te lixar! 
Falava para o aparelho como se o desgraçado, que tanto jeito lhe dava, tivesse culpa. 
Depois amargurava-se. Sabia que tinha de resolver a situação, que deveria aceitar ajuda daquela pessoa, mas custava-lhe. Não! Não precisaria de ninguém para fazer o horroroso TPC de matemática.
Atirou-se aos números e aos cálculos. 
- Eu sabia que era capaz! 
Vitoriosa, pegou no telemóvel.

2 de janeiro de 2017

O SOFRIMENTO ENFRAQUECE

Os seus dias andaram com pressa. As festas chegaram ao fim. A maquilhagem foi retirada. 
O novo ano entrou sem mudanças, com a cara carregada de sempre, e ela não o sente como novo. Até porque voltaram os silêncios, alguns carregados de ruídos. 
Do fundo das rugas, olhar o hoje magoa-a. No restolho do tempo, o futuro parece fugir-lhe. 
Mas uma voz dita-lhe: há que correr atrás. A vida é feita de dias e o sofrimento enfraquece.

desafio nº114 da Margarida Fonseca Santos: dar a volta ao ditado popular "o sofrimento enobrece"