23 de setembro de 2015

FIM! (segunda versão)

Versão reduzida em 77palavras do conto Fim! (ver aqui)
Para mim deixou de haver amanhã. Os móveis foram doados, a poltrona ficou sem serventia, destroçada. Nela, Emília foi pedida em casamento, descansou, mal regressou das núpcias, sentiu as dores de parto, amamentou a filha, observou-lhe as brincadeiras, chorou, riu, morreu.
Eu e ela. Abandonadas, nós que testemunhámos tanta vida. Encostado a mim, como um espectro, José nem se apercebe que tudo tem um fim. O Alzheimer permitiu-lhe esquecer as perdas. Vai partir para o lar. Inevitável.

Desafio nº 98 da Margarida Fonseca Santos: 
conto a partir da fotografia de Pedro Teixeira Neves

FIM! (primeira versão)

Tanto que pode dizer uma imagem!!! Fotografia de Pedro Teixeira Neves.

Para mim deixou de haver amanhã. Contas feitas, sobrou nada. Desde o dia em que os móveis foram doados e apenas a poltrona, de tão velha e sem serventia, fora atirada para o jardim, tão mal cuidado como ela, como eu. E tanto que temos para contar. 
Já não sei quantos anos tenho. Setenta? Oitenta? Só sei que nada poderia acabar assim. 
 Destroços. Solidão. Abandono. É o que existe agora, é o que eu sinto, eu que conheci tanta vida! Mas os velhos ficaram mais velhos e a partida para o lar tornou-se inevitável. Como a poltrona ficou, também, velha e gasta, sem serventia, vai para a lixeira. Eu fui vendida, vou ser restaurada. Os novos donos não querem nada velho. Não seria melhor demolirem-me? 
(...)
Continua, in Os dias são assim

12 de setembro de 2015

MONÓLOGO

- Diz-me: que tens? Porque não sorris? Porque não falas? Estás tão triste! Que fardo carregas? Desabafa comigo, agora!
(brotam silêncios ameaça(dores))
- Engoles tanta amargura! Choras, qual Madalena. Despede esses sentimentos. Quero tanto ajudar-te. Permite-mo, por favor! Abre o coração. Liberta a mente. Quero estar contigo. Quero poder amar-te. Despreza quem traiu. Esquece-o, apaga-o, ignora-o. Mata as recordações. Passado é passado. Não o ressuscites.
(ouvem-se silêncios promissores)
- Olha em frente. Repara em mim. O presente existe. Deixa-me entrar! 

Desafio RS nº 29, da Margarida Fonseca Santos:
 sempre frases de 3 palavras apenas (exceto a última)

7 de setembro de 2015

VIDAS

O homem estendido na areia despertava a curiosidade de todos os banhistas que iam chegando. 
Uma toalha de praia como lençol amparava-lhe o sono. Cabeça enconchada numa grande mochila, pele tisnada, sapatilhas e chinelos simetricamente alinhados com a toalha, o homem tinha ali passado a noite, pela certa. Ou o que restara da noite! E, pelo jeito, iria ali passar o dia, a dormir. Volta e meia, levantava as pálpebras, a querer dar os bons dias ao sol, mas este não estava para aturar madraços. Logo nesse dia em que tinha decidido ficar mais esperto e queimar tudo onde pousava. Por isso, espetava-lhe os raios e cegava-o e o homem voltava a fechar os olhos e a dormir.
(...)
Continua, in Os dias são assim

6 de setembro de 2015

NA FEIRA DO LIVRO DO PORTO

Hoje foi uma tarde de Feira do Livro, no Porto. Numa sessão de autógrafos com uma forte concorrência, foi uma honra estar sentada ao lado da Alice Vieira que atrai multidões. Quando for grande, quero ser como ela!!!