17 de dezembro de 2017

MARCAS

Era um provador, numa loja de roupa, como qualquer outro provador. Um cubículo pequeno com um espelho para refletir as vaidades. 
Por momentos, tudo mudou. Não era vaidade que estava ali, era o tempo a fazer das suas. O tempo, esse inimigo da juventude. O tempo, esse implacável vilão que não perdoa e deixa marcas dolorosas. 
Ela só queria experimentar as calças. 
Eu só queria dar uma opinião e ter a prenda de Natal resolvida. Um problema a menos, se as calças servissem.
(...)
Continua, in Os dias são assim

28 de novembro de 2017

QUE INDIGNAÇÃO!

- Olhe, dona Celeste, estamos muito indignadas. E pode dizer ao seu patrão, eu própria lho direi. Não se admite, chegar à nossa beira e mandar-nos calar porque estamos a falar muito alto e incomodamos os outros clientes! Por amor de Deus! Não estávamos a dizer mal de ninguém, não estávamos a dizer segredos, nem a falar dos namorados das outras. Era só o que faltava! Isto é um local público e não podemos falar alto?! Que indignação!!!! 

Desafio Escritiva 26 – mistérios da natureza humana

21 de outubro de 2017

NO SEU PEITO VIVIA UM PÁSSARO

Hoje foi manhã de escrita criativa com Rui Ramos. 
Um dos exercícios: tirada uma carta, aleatoriamente, de um baralho de cartas do jogo Dixit, em cinco minutos a história teria de estar escrita. 

O resultado:
No seu peito vivia um pássaro e ela deixou que se libertasse quando acordou, estremunhada, cabelos zangados atirados ao ar. Os olhos mal se abriam, ensonados. Ou seriam cansados? Não quis ver-se ao espelho, ignorou-o. Provavelmente não iria gostar da imagem que ele lhe devolveria. Preferiu abrir a janela, deixar que a luz entrasse, que a primavera entrasse, que o seu corpo negro entrasse noutra dimensão. Quem sabe? Talvez atingisse um mundo paralelo onde a cor e a dor não provocam danos colaterais. 
 Apalpou o seio nu e, com o pássaro, chorou.

20 de setembro de 2017

CONTO TRADICIONAL

Era uma vez uma velha. E era uma vez um lobo esfaimado.
A velha saiu da sua cabana para ir ao batizado dos netinhos. O lobo saiu-lhe ao caminho para a degustar.
Mas ela estava magrinha, ele só teria ossos para trincar. E deixou-a partir. Na festa iria engordar, o banquete poderia esperar.
Na hora do regresso, o lobo esperava-a. Escondida numa cabaça, a velha respondeu-lhe:

- Não vi velha, nem velhão! Corre, corre, cabacinha, corre, corre, cabação!

23 de agosto de 2017

REFÚGIO

Refugio-me do rebuliço da cidade e faço-me refúgio.
O sol vem beijar-me, manhã cedo, e o seu beijo mantém-me verde. No rio, os patos agradecem, felizes. E os habitantes da cidade também. Vêm até mim caminhar, buscar a paz, o silêncio, o diálogo com a natureza. Vêm respirar-me! Ofereço-lhes espaço de meditação, frescura, beleza, luz. Em troca, só peço respeito.
O meu nome? Chamo-me Parque do rio Ul. Vivo dentro da cidade. Mas a cidade fica longe.


desafio Escritiva nº 23 – recomendar um destino, guias de viagem

2 de agosto de 2017

UM RIO NOS OLHOS

Trazias um rio nos olhos. Sempre que te ouvia, nascia um desejo súbito de mergulhar neles. Iluminavam-se quando cantavas, parecia que a tua voz tinha o condão de lhes dar brilho. Lembras-te daquela vez em que cantaste só para mim?
Contudo, tu, com a mania de te relacionares com estranhos na Internet, arruinaste-te.
Era a mim que devias ter contado tudo. Talvez não saibas, mas eu queria ser a mãe que não tiveste. Agora, é tão tarde!...

3 de julho de 2017

CAMINHO REENCONTRADO

Custou encontrar o caminho depois de andar tantos anos perdida. A sua existência, assolada por tempestades, trouxera-lhe dissabores. Nunca sabia se, nem quando, surgiria a próxima. 
Agora, chegada a calmaria, o importante é erguer-se. Está sozinha, é certo, mas, como diz o ditado, “antes só do que mal acompanhada”. Sozinha, mas independente. Sozinha, mas com liberdade. Sozinha, mas de sorriso recuperado. Dona de si. Orgulhosamente. 
Não se habituara, ainda, a este luxo, conclui. Resta-lhe, então, aprender. Resistindo!

25 de junho de 2017

CENAS

O meu marido sempre foi duro de ouvido, quer para cantar, quer para línguas estrangeiras.
Fomos de férias para o sul de Espanha e passámos uma noite num hotel, em Sevilha, onde jantámos. Na hora de pagar, disse-lhe a rececionista:
- Tu tienes una cena…
- Cena???? Não houve cena nenhuma. A minha mulher deitou-se e dormiu toda a noite…
- Como asi???
De longe, apercebi-me da atrapalhação de ambos. Às gargalhadas, gritei-lhe:
- O jantar de ontem! É para pagar!

14 de junho de 2017

DESCONCERTO

Acordou com o sonho bem presente. O céu era uma pauta onde bailavam as nuvens cinzentas transformadas em notas musicais. O mundo tornara-se numa orquestra. Um afinado concerto, sob a alegre batuta do maestro, muito alinhado, transmitia harmonia. 
Agora, desperta, olha a realidade. A loucura instalada, o bom senso desinstalado. 
Como sentir paz neste mundo desafinado? 
Como viver neste desconcerto? 
Como suportar a desarmonia dos dias? 
Tudo tão desalinhado! 

Tantos sonhos descosidos querem, urgentemente, ser novamente cosidos.

Desafio RS nº 50, Margarida Fonseca Santos.  palavras com prefixo des

12 de junho de 2017

SOBRE “O HOMEM PARTIDO”


Escreveu Raul Brandão: “Em todas as almas, como em todas as casas, além da fachada, há um interior escondido.”
A Casa da Criatividade abriu as suas portas, neste domingo 11 de junho, para o provar.
Pequenos talentos soltaram toda a sua energia e descontração para dar uma grande lição aos adultos. E, de facto, só as crianças, com toda a sua naturalidade e espontaneidade conseguem mostrar que a vida deveria ser “olho por olho, dentro por dentro”.
“O homem partido” é mais do que uma peça de teatro interpretada por crianças. É um convite (que poderia ser convocatória!) a que cada um seja “bicho do mato, ou extrovertido ou os dois em diferentes tempos”, porque o mundo irá, certamente, identificar-se com cada um, segundo as palavras do poeta sanjoanense Fábio Silva, que colaborou com um texto poético seu, incluído no texto dramático.
“O homem partido” é um olhar profundo sobre as pessoas, é uma entrada triunfal no mais fundo de cada um, é uma saída terramoto que tremeu consciências.
Enquanto espetadora, senti-me fortemente abalada pelo impacto. Mas, ao contrário do esperado em situações de catástrofes naturais, não quis fugir em busca de proteção. Quis ficar ali, a absorver cada palavra dita, cada momento vivido e sentido pelos pequenos-grandes atores que tão bem olharam por dentro a sociedade em que vivem, uma sociedade cheia de estereótipos, de preconceitos, de olhares cruzados, críticos, mordazes, mesquinhos.
O homem partido não é aquele que não tem um braço ou uma perna. O homem partido é aquele que vive pela metade.
Porque o ciúme, a inveja, a maledicência, a falsidade e o pessimismo existem.
Porque há gente cinzenta que não vê o colorido do vizinho.
Porque há gente que só olha para si e não vê quem se senta ao pé de si, numa mesa de café ou em qualquer outro lugar público.
Porque há gente que se acomoda e não se levanta para ajudar aquele que caiu ao seu lado.
Porque há gente que não acredita.
Mas, também, porque há gente diferente (diferente?!) que só quer uma palavra amiga, nem que para isso tenha de recorrer a uma peúga abandonada e transformá-la em fantoche.
Porque há gente curiosa que só quer respostas que a sosseguem.
Porque há gente que, aparentemente, nada tem e, afinal, tem tanto para dar.
Porque há gente.
E porque há gente, o preconceito, existe, é um facto.
E porque há gente, o preconceito deve ser combatido, destruído e abolido.

E foi contra o preconceito que os Ecos Urbanos lutaram, neste projeto nascido do zero, com palavras escritas pelo próprio grupo “Oficina de artistas”, com uma interpretação fantástica e uma magnífica encenação de Mariana Amorim e Mafalda Tavares, e deram resposta ao repto “Olhem para estranhos. Olhar de ver com curiosidade e de lhes descobrir os traços”. Um projeto de um grupo que acredita em cada um, que tem paixão pelo ser humano e que convidou toda a plateia a olhar mais para dentro e menos para fora, a despir a máscara que deverá ficar circunscrita ao teatro, não à vida diária.
E a mensagem passou, tiro certeiro disparado ao coração, através das palavras do brasileiro Chico Xavier:
“A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...
 TUDO BEM!
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum... é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. 
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.”

Parabéns, “Oficina de artistas” dos Ecos Urbanos, por terem feito eco para não deixarem os adultos serem pessoas mais ou menos. Só pessoas por inteiro fazem a mudança.

10 de junho de 2017

"LETRAS INCLUSIVAS"

Hoje, no Mosaico Social, em Arrifana, foi apresentado o projeto interdisciplinar "Letras inclusivas", a partir do meu livro O santo guloso. 
A equipa da Educação Especial do agrupamento de escolas Coelho e Castro, Fiães fez um trabalho espetacular com os alunos. A partir da história original, na revista hoje apresentada, surgem quadras a recontá-la, trava-línguas, palavras cruzadas, uma história em 77 palavras, a receita da fogaça, ilustração...

2 de junho de 2017

CRISÂNTEMOS

Balouço no bolso do avental de Odete que caminha apressada, abraçada ao molho de flores acabadas de colher. Crisântemos. Não sabe porquê, mas sempre foi apaixonada por eles. Coloca-os na jarra e guarda apenas um, vermelho, para pô-lo ao peito. O jantar vai ser de cerimónia, quer estar bonita. Eu ajudarei, prendendo o crisântemo. Eu, um alfinete inútil! A flor fará sobressair o decote. O decote fará entrever uns seios de seda. Ele declarar-se-á, finalmente. Espera ela!

15 de maio de 2017

"OPERAÇÃO" FÁTIMA

Eduarda espanta-se. Não se lembra de ver muitas das suas amigas dirigirem-se regularmente a um local de prece. Porém, fotos públicas mostram-nas no meio da “operação” Fátima, repentinamente devotas. 
Ela sabe que os tempos são de incerteza e de medo, de injustiça e de maldade. São tempos de provações. Mas, se o ser humano não acredita em si próprio nem no seu semelhante, como irá a Humanidade mudar e melhorar se espera o milagre, silenciosa e pacientemente?

3 de maio de 2017

SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE SÉNIOR DE SANTA MARIA DA FEIRA

À imagem do ano passado, a Universidade Sénior de Santa Maria da Feira está a dinamizar a sua semana cultural com eventos espalhados pelos cafés e restaurantes da cidade, terminando na Biblioteca Municipal no dia 5 de maio.
E, à imagem do ano passado, fui convidada para estar presente numa sessão e registar o momento, com palavras. Coube-me a sessão dedicada aos anos 60. Não poderia ser melhor. Foi na década de 60 que nasci (inaugurei a década, pode-se dizer!) e abri os olhos para a vida.
No final, o texto ficou pronto. Transcrevo-o:

A máquina do tempo vai arrancar. A viagem vai começar numa noite espiada pela lua em quarto crescente. Ao longe, o castelo observa a Taberna do Xisto que, hoje, se transformou e misturou novos sabores, de saberes cruzados.
Um, dois, três… Partida! Destino: anos 60. Cá vamos nós!
Chegamos. Aterramos.

Em Portugal, cresce a desilusão perante um regime ditatorial.
Depois de uma guerra mundial, cresce a revolta perante uma guerra colonial.
Cresce a frustração.
Cresce a contestação contra um Estado parado, vazio, alheado do mundo onde grassa a desigualdade.
“Mas há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”. Não à ditadura, não à ignorância, não a qualquer forma de tirania. E muitas foram as formas de dizer não. Com palavras de contestação, mas forradas de poesia. Com pincéis e tintas (por vezes mais eloquentes do que as palavras). Com música interventiva mais certeira do que balas no combate à injustiça. Com a moda provocatória. Com danças energéticas. Com manifestações hippies num colorido e relaxado festival Woodstock. “All we need is love”, “Peace and love”, “Make peace not war” são gritos de paz porque a guerra não é bem-vinda. Nem hoje, nem amanhã. Nem nunca!
“Quantos caminhos tem um homem de percorrer para que lhe chamem homem? Quantos anos podem alguns existir antes que lhes seja permitida a liberdade?” Perguntas feitas pelo recém Nobel da Literatura Bob Dylan. Muitos caminhos foram percorridos e muitos anos passaram para que a liberdade nos fosse permitida.
Hoje, aqui e agora, viveram-se momentos impossíveis de serem vividos sem liberdade, esse bem precioso que nos permite respirar, correr e gritar aos quatro ventos. E esta gente da Universidade Sénior de Santa Maria da Feira correu, cantou, dançou para trazer até nós uma época tão rica em cultura, apesar de, ou, talvez, devido à ditadura e à consequente contestação. Monstros consagrados vieram até à Taberna trazendo na bagagem o seu saber.
Cinquenta décadas depois, vivemos dias frenéticos, mas, hoje, não fomos derrotados pela pressa, derrotamos a pressa. Revivemos momentos. E nem foram precisos charros nem máscaras. Porque há gente que sempre lutou e gente que continua a lutar, contra ventos e marés. Assim, deixo a minha homenagem a todos, eles e elas, gente da Universidade Sénior, num texto à moda de Ana Hatherly, mulher da cultura portuguesa em destaque nos anos 60.

Esta Gente
O que é preciso é gente
gente com garra
gente que tenha garra
que mostre a garra

O que é preciso é gente
gente que não seja malevolente
nem indolente
nem insolente
nem prepotente
mas, sim, gente polivalente

RESILIENTE

O que é preciso é gente
gente com mentes sãs
mesmo que carreguem algumas cãs
gente com alma sadia
que não viva uma vida vazia

O que é preciso é gente 
que espicace toda essa gente
que, dominada pela indolência,
não é gente
como esta gente
que não se deixa dominar por gente

INDIFERENTE!

Gente que é gente
Vai à luta
Só assim sabe que é gente

Gente que é gente
Partilha o saber
E, em todos os seus gestos,
Esta gente dá amor
Esta gente traz palavras que têm cor
E todos os seus gestos emanam calor
Esta gente solta freios
E mata os silêncios alheios.

25 de abril de 2017

NASCI CRAVO


Nasci flor. Vermelho em todo o seu esplendor. Discreta e sem vaidade, de suave odor mas com muita cor. Cor do amor. 
Enchia campos, enchia jarras de cristal. Um tempo houve em que enchi espingardas. Calei-as, não cuspiram balas, nem deram coronhadas! 
Então, o meu destino mudou. Agora, passeio-me nas lapelas, sou agitada como estandarte ao vento. Nasci cravo mas não sou mais flor, já não vou murchar. Hoje, sou a liberdade, estou aqui para firmemente ficar.

HORA DO CONTO NA BIBLIOTECA DE FUNDO DE VILA

A convite da Junta de Freguesia de S. João da Madeira, levei o meu livro Do cinzento ao azul celeste aos alunos da escola EB1 de Fundo de Vila para uma hora de conto/conversa sobre os valores de abril. Depois da leitura e da conversa, ficou aberto caminho para a escrita. E foi assim que algumas crianças de segundo e terceiro anos definiram liberdade.

  • "A liberdade é uma gaiola de portas abertas." . Gabriel
  • "A liberdade é a escola que nos dá educação." - Maria Leonor
  • "A liberdade é ter asas." - Edgar
  • "A liberdade é a forma como concretizamos os nossos desejos e seguimos o nosso caminho a voar," Gabriel
  • "A liberdade é um tempo feliz."
  • "A liberdade é como uma flor aberta no jardim,"
  • "A liberdade é a árvore que se alimenta da seiva" - Maria Leonor
  • "A liberdade é ter tempo para ser feliz." Maria Leonor
  • "A liberdade é como a flor a abrir com a paz." - Maria Leonor
  • "A liberdade vem com o mar." Lara
  • "Sem liberdade seríamos prisioneiros do tempo." Mariana

23 de abril de 2017

23 DE ABRIL - DIA MUNDIAL DO LIVRO

Porque, hoje, é Dia Mundial do Livro e todos os dias são dias de leitura. "Faça da leitura uma causa de vida", o lema deste ano. Os meus livros talvez possam ajudar a lutar pela causa.

14 de abril de 2017

ESPELHO MEU!

Olho-te, espelho. Deverias refletir-me, tal como sou, mas não! Acordaste maluco e devolves-me a figura que eu queria ser, mas não sou, nunca fui. 
Deixas que me espreite uma mulher com ar inteligente e confiante, olhar atrevido e desafiador, numa pose de quem sabe o que quer e consegue-o. Esta, que especaste à minha frente, não sou eu. Não passo de uma mulher fraca, ignorada, sem atributos.
Espelho meu, haverá alguma mulher mais insípida do que eu?

9 de abril de 2017

QUEM ANDA A ROUBAR AS ESTRELAS?

Espetáculo musical, na Casa da Criatividade, integrado no Festival de Teatro de S. João da Madeira


SINOPSE:
Diz a lenda que, em noites de lua cheia, as estrelas se aproximavam da Terra para a fazerem brilhar. Mas elas começaram a não regressar e era grande o mistério do seu desaparecimento.
Havia um homenzinho que vivia numa nuvem cinzenta e que invejava a noite por ter a lua, as estrelas e tanto brilho. Sentindo-se solitário, quis guardar todas as estrelas só para si e começou a caçá-las como se fossem borboletas.

Mas ele aprendeu a olhar à sua volta e a brincar ao faz-de-conta. E compreendeu que que a liberdade é um tesouro que não se pode enjaular.

A equipa:


29 de março de 2017

LEVOU-ME UM LIVRO...

...a um mundo a transbordar de amigos!


Branca de Neve. Cinderela. Aurora. As primeiras amigas. Com elas percorri salões de palácios magníficos, frequentei animados bailes cheios de luz e de cor e até dancei com príncipes! Foram dias magníficos de fantasia e diversão.
Os três porquinhos. O gato das botas. O gato Pompom. Crina Branca. Os amigos de quatro patas que não tinha em casa estavam nos livros. Com eles e com elas, preenchia os meus dias de uma infância feliz, quase sem televisão nem parafernália de jogos computorizados.
Cresci. Estes meus amigos e amigas não quiseram crescer comigo. Foram fazer outros amigos, mas deles ficaram guardadas as lembranças doces, bem fundo.
Outros amigos surgiram, ainda mais aventureiros!
Quanta adrenalina com os cinco amigos Júlio, Ana, David, Zé, e o seu cão! Quanto divertimento com as gémeas no colégio das Quatro Torres e no colégio de Santa Clara! Quantas aventuras vividas em cheio com os Sete!
Veio a adolescência. Romance. Amores. Sofrimento. Finais felizes.
Brigitte, Isabel, miss Grey, Margarida, Diana, Catarina, a Menina Aguaceiro, as mulherzinhas Zé, Gui, Melita e Bel eram agora as minhas melhores amigas e povoavam os meus sonhos e ilusões. Preenchiam por completo a minha vida. A mãe podia chamar, as irmãs gritar e o mundo desabar. Nada. Só a elas ouvia, só com elas convivia, sofria ou ria.
O tempo foi passando inexoravelmente e a lista de amigos crescia, aumentava, engrossava...
Foi então que surgiu na minha vida o surrealista e inconformista João Sem Medo. Veio também o escravo Pai Tomás mostrar-me a violência da História.
E os anos passavam...
Como sofri com Maria quando o Romeiro apareceu!
Como chorei, solidária, com Teresa e Simão Botelho!
Que famílias injustas as de Romeu e Julieta!
Que crueldade, a partida que a vida pregou a Carlos da Maia e Eduarda!
E aprendi mais. Aprendi que há sofrimentos maiores do que o do amor!
Prisão. Tortura. Pobreza. Miséria...
Como gostaria de tirar da miséria o Gineto e seus amigos de rua e poder salvar os meninos desprovidos de tudo apenas donos da areia da praia.
Como gostaria de dar a liberdade aos amigos que a perderam apenas por lutarem, justamente, contra as injustiças, por quererem aquilo a que tinham direito. Jofre, Carlos, João, Mariana e outros tantos resistentes apenas queriam um mundo melhor, livre.
Por essa mesma liberdade lutou o filho de Pelageya. Como sofreu esta mãe e me fez sofrer!
Como doeu a falta de liberdade de Anne Frank! Uma adolescência privada de tudo o que a adolescência tem de bom. Uma vida perdida vítima de tiranos assassinos.
Pobre Jean Valjean, sempre fugido!
Encontrei, também, outro tipo de falta de liberdade. Esta, voluntária, sem razão de ser, sem pretexto nem desculpas. Christiane F. é toxicodependente. Filhos da droga, muitos, levaram-me a ver esse mundo de decadência e degradação física do qual não há retorno. Morte, apenas! Vi. Aprendi.
Vi também outra dependência: a do jogo. Casino, roletas, dinheiro perdido, infelicidade. Alucinação! Foi Alexis Ivanovitch que me apresentou este mundo completamente desconhecido e impensado, até então.
Os livros permitiram sempre a viagem a mais um mundo: o do crime calculado, frio, insensível. Mas eram convidados os meus amigos Poirot, Miss Marple e Sherlock Holmes para os deslindarem. E faziam crescer, de forma bem inteligente, a expectativa até à última página.
Depois de tanta emoção, os amigos divertidos e brigões apareciam para descontrair e fazer rir. Sempre prontos para mais uma sessão de pancadaria nos romanos, lá estavam Astérix e o gordo Obélix. Gordo? Perdão, gordo não, cheio de peito. E lá estavam, também, a contestatária Mafalda. A irreverente Guidinha. O traquina Nicolau.
Hoje sou adulta. A lista de amigos não pára de crescer. Cada vez mais sofisticados, mais complexos.
A papisa Joana tão corajosa e lutadora. Guilherme de Baskerville tão inteligente e perspicaz. Como se tivesse entrado numa máquina do tempo, eles levaram-me à Idade Média.
Vianne Rocher, Júbilo e Lucha, Tita e Pedro levaram-me ao império dos sentidos...
E o desfile continua. Blimunda e Baltasar. Montag, o incendiário de livros. O fiel Florentino Ariza. A fria e traidora Teresa Raquin. O desesperado e infeliz Raskolnikov. A selvagem Eva Luna. O espantoso e fascinante Petter, a Aranha, vendedor de histórias. O severo professor Crastaing. O hediondo Jean Baptiste Grenouille.
Mais recentemente, e a idade isso permite, outros seres vieram engrossar a lista: Simon Axler e senhor Ulme , apresentam a realidade nua e crua do envelhecer. Carlos Brauer faz-nos percorrer a literatura universal. Eszter faz-nos ver a manipulação existente no mundo que nos rodeia. 
E tantos outros. Sem fronteiras, vencendo a geografia sem mapas nem GPS, fui criando laços. Estes meus amigos nunca me abandonaram. Estão sempre lá. Na saúde ou na doença, nas férias ou no trabalho, na solidão ou no meio do barulho, são a melhor companhia, um refúgio, uma animação. Ou, simplesmente, evasão. E todos eles, que me mostraram tantos mundos, fizeram-me criar o meu próprio mundo, fizeram-me criar as minhas estórias, que, agora, levo aos outros partilhando o que tenho dentro de mim. 
Levou-me um livro? 
Não! Levaram-me muitos.

25 de março de 2017

PRIIIIIIIIIU!!!!

Havia um fogueteiro que, de tão gaiteiro, fazia das festas profissão.
Havia arraial. Ftpum-pum-pum!
Havia eleições. Ftpum-pum-pum!
Havia vitória do clube de futebol. Ftpum-pum-pum!
Tudo era pretexto para os foguetes estralejarem e o ar atordoarem.
Cansada do barulho, a aldeia obrigou-o a mudar. Agora era sineiro.
Havia batizado. Dlim-dlim-dlim!
Havia casório. Dlim-dlão-dlim-dlão!
Mas não gostava quando havia funeral. Dlão-dlão-dlão!
Que som soturno! Não aguentou tanto dlão-dlão.
Tornou-se árbitro. Sempre podia assinalar todos os penaltis da vida. Priiiiiiiiiiiu!


13 de março de 2017

TANTA ATRAPALHAÇÃO PARA NADA!

Quando o desafio é gigantesco, dá num texto assim. As 23 palavras a negrito (desafio Rádio Sim, nº47) foram fornecidas para serem usadas no texto, obrigatoriamente.

Tanta atrapalhação para nada! O bárbaro crime anunciado não existiu. Mas tinha o dedo dele!
Inventava constantemente grandes aldrabices, sem hesitação, para espicaçar.
Primeiro, um urso fugido atacara-o. Depois, um exército de varejeiras levara-o ao hospital! Mais tarde, a zanga com quatro rivais provocou-lhe uma apoplexia. Finalmente, comprara um jaguar! Impossível! Falido, nem para uma lamparina tinha nota!
Terminaram as mentiras quando, finalmente, o enviaram para um lugar místico.

Ali, oculto, embrulhado num xaile, combatia a solidão!

21 de fevereiro de 2017

QUE VACA TEIMOSA!

- Professora, nem vai acreditar, mas é verdade. Deparámo-nos com uma vaca, no meio da estrada, que impedia o carro de avançar. Saímos para a afastarmos e, por incrível que pareça, ela olhou-nos ameaçadoramente e falou-nos:
- Sou vaca sagrada, chegada da Índia na armada de Vasco da Gama. Não podeis tocar-me senão cai-vos um raio em cima!
- E eu fiquei ali, argumentando, que tivesse dó, que eu levaria raspanete, que a professora marcaria falta… Mas ela era teimosa!!!
Desafio Escritiva nº 17 – desculpas criativas

13 de fevereiro de 2017

FUTURO ROBÓTICO

A polémica instala-se. A discussão gera confusão. 
Aceito, naturalmente, a mudança, desde que não me despedace o coração de susto. Tão simples quanto isso. 
Estou preso no passado? Não. Esse futuro sem luz, sem uma nesga de emoção, rejeito-o. Todo o saber lá estará, mas… juntando-lhe frieza e inteligência artificial, pisados ficarão os sentimentos. 
Nem este trevo de quatro folhas me faz prever um destino afortunado para a humanidade. 
Não, não quero viver neste futuro robótico anunciado!

3 de fevereiro de 2017

O QUE ACABEI DE LER

Foi o primeiro livro de Sándor Márai que li. Vou procurar outros.
A herança de Eszter é um livro que provoca um forte impacto. Nele moram personagens densas cujas vidas descruzadas, e por isso mesmo constituem toda a trama, nos deixam, a nós leitores, com a coração a bater fortemente, o cérebro num rodopio, e os olhos a observarem as pessoas que nos rodeiam. ´
Lealdade vs traição, honestidade vs manipulação e falsidade, amor e amizade vs interesses materiais.

O primeiro capítulo: 
"Não sei o que Deus ainda me reserva. Mas antes de morrer quero escrever a história do dia em que Lajos veio ver-me pela última vez e me roubou. Há três anos que venho adiando estes apontamentos. Agora sinto como se uma voz, contra a qual não posso defender-me, me exortasse a escrever a história desse dia – e tudo o que sei acerca de Lajos – porque esse é o meu dever, e já não tenho muito tempo. Uma voz assim é inequívoca. Por isso obedeço, em nome de Deus. 
Já não sou jovem nem tenho saúde e, em breve, terei de morrer. Talvez devido ao tempo, que não me perdoou, talvez devido às recordações, tão cruéis como o tempo, talvez por um particular estado de graça que, segundo os ensinamentos da minha fé, também toca por vezes os indignos e destinados, talvez, simplesmente pelo peso da experiência e da velhice, olho a morte de frente, com serenidade. Presenteou-me a vida maravilhosamente e, implacavelmente me despojou...o que mais posso esperar? Tenho de morrer, que isso é a lei, e porque cumpri o meu dever. 
Sei que palavra é esta e, vendo-a agora, escrita, sinto-me um pouco intimidada. É uma palavra arrogante, pela qual vou ter de responder, um dia perante alguém. Demorei algum tempo a reconhecer qual o meu dever e obedeci, contrariada, sim, uivando e protestando desesperadamente. Senti, então, pela primeira vez, como a morte pode ser redenção, e soube, também, como a morte é resgate e paz. Que estranha foi essa luta! Quem me obrigou e porque não pude esquivá-la? Tudo empreendi para escapar dela. Mas o inimigo vinha atrás de mim. Agora já sei que não podia ser de outro modo. Estamos ligados aos nossos inimigos e eles também não podem fugir de nós.”

E quase no fim:
“O sentido moral, vês, não é algo de hereditário, mas uma característica adquirida. Os homens nascem sem moral. O sentido moral dos selvagens ou das crianças é diferente da moral de um juiz de sessenta anos do Supremo Tribunal de Viena ou de Amsterdão. Adquire-se o sentido moral durante a vida, tal como de adquirem maneiras e cultura. – Falava em tom de padre, como um especialista. – Há homens cujo carácter é fortíssimo, sim, são uns génios do carácter, tal como há grandes músicos e poetas. Tu és assim, Eszter, um génio do carácter; não, não protestes! Foi o que senti em ti. Eu, em questões de moral, sou um surdo, quase analfabeto. Por isso, refugiei-me em ti; creio que, sobretudo, por essa razão.”  pág. 121/122

2 de fevereiro de 2017

MALDITOS TODOS OS VÍCIOS!

Acordou com o sol impertinente a agredir-lhe o rosto queimado, como já acontecia há meses. Desde que perdera tudo, a praia era a sua casa. 
Maldita bebida, maldito jogo, malditos todos os vícios! 
Teve sorte. Naquele dia, um ser misericordioso (parecia ter caído do céu!) viu-o e estendeu-lhe uma mão. 
- Queres mudar? – perguntou-lhe, apenas. 
No dia seguinte, Rafael iria mudar o rumo da sua vida. Entretanto, esperou pelo sono. Talvez lhe trouxesse a paz há muito fugida. 

1 de fevereiro de 2017

A QUINTA DOS ANIMAIS

A fábula A quinta dos animais, ou O triunfo dos porcos, como aparece, também, traduzida em português, é uma metáfora política muito bem urdida. 
Apesar de ter sido publicado em 1945, o livro é de uma atualidade admirável: os animais de uma quinta revoltam-se contra a tirania do seu dono, mas rapidamente o idealismo e a democracia dão lugar à mentira e a uma nova forma de ditadura. 
Mordaz e cheio de perspicácia, George Orwell faz o leitor olhar para o mundo atual e ver o que nele se instalou, para ficar: manipulação, corrupção, sede de poder, ganância pessoal sobreposta ao interesse comum, enriquecimento rápido da minoria em contraste com empobrecimento alarmante da maioria. 
E é a este nível que chegam os novos “governantes” da quinta, os porcos. Para eles deixa de haver limites e as mentiras em que envolvem os outros animais passam a ser a sua verdade. Lendo este pequeno grande livro, o leitor revê o passado e vê o presente ocupados com loucos que têm ascendido ao poder e causado destruição. Então, imagina um futuro negro porque a história é cíclica e repete-se. A quinta dos animais é o livro onde a ficção toca a realidade nua e crua.

Comentário publicado pela revista Visão, na rubrica "Ler faz bem" 
(comentários dos leitores)

27 de janeiro de 2017

HORA DO CONTO PROMOVIDA PELA JUNTA DE FREGUESIA DE S. JOÃO DA MADEIRA

A Junta de Freguesia de S. João da Madeira decidiu animar a sua biblioteca, em Fundo de Vila, com uma hora do conto mensal, que decorrerá na última quinta feira de cada mês,
Coube-me dinamizar a primeira, ontem. E foi uma animação com O santo guloso como pretexto.
Uma iniciativa de louvar, pois todas as atividades que levam os livros às crianças, as viciam na leitura e as levam a querer saber mais são fantásticas.

Mais informação pode ser lida aqui.





26 de janeiro de 2017

CREPÚSCULO

Cai o crepúsculo. 
Cegonha entre nuvens 
E o inverno acontece.

O QUE ACABEI DE LER

Morreste-me choca pela intimidade. Choca-me pela violência da dor. Choca-me por me rever nele. Choca-me por eu não ser capaz de escrever assim. 
Há palavras que não se sabem. 
Há palavras que não se pensam. 
Há palavras que não se dizem. 
José Luís Peixoto soube pensá-las, senti-las e dizê-las magistralmente apesar de as ter escrito ainda tão jovem. Mas, parece que uma perda tão sentida faz crescer, amadurecer e ver a vida com outros olhos. 
"E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os dias? assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.” (pág. 12/13) 
Neste livro tudo é dor porque “Tudo o que te sobreviveu me agride”: 
• A violência do hospital 
• A doença 
• O lugar na mesa, vazio 
• As memórias: “Deixaste-te ficar em tudo.” 
• Os espaços 
• As dádivas 
• As saudades
• As roupas que ficaram 
• Os objetos encontrados na gaveta
E, sobretudo, “a certeza de não te perder e perdi-te.” 
No fim, depois de tudo, depois das voltas dos ponteiros do relógio, o que fica? 
Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei.”

Nota: Este foi o livro de leitura partilhada no Clube de Leitura da BM de S. João da Madeira, em janeiro de 2017.

24 de janeiro de 2017

PROMESSAS...

Viveu uma juventude politicamente comprometido com a mudança. Fora um ativista.
Agora, quase velho, sem nada para fazer, sentia-se um destroço. 
Naquela noite, enquanto engolia as passas, soube que precisava de dar passos para recuperar a energia que lhe fugia. Foi enumerando o que iria fazer. Voltaria a colar cartazes, a denunciar, a agir junto dos desfavorecidos. 
O ano acordou preguiçoso e contagiou-o. 
Os ponteiros do relógio giraram, o ano terminou. Ele olhou para trás. Nada viu.

13 de janeiro de 2017

ENCONTRO COM ALUNOS NO AGRUPAMENTO COELHO E CASTRO

Hoje voltei, como autora, a um agrupamento onde fui muito feliz como professora, durante quatro anos: O Agrupamento de Escolas Coelho e Castro, Fiães. E foi com enorme satisfação que vi o meu livro O santo guloso trabalhado de forma fantástica por alunos e professores, quer da educação especial quer do 6ºano. A partir da sua leitura, uma professora escreveu uma cantilena e os alunos fizeram outros textos (incluindo quadras rimadas, um microconto em 77 palavras, trava-línguas, acróstico), palavras cruzadas, ilustração e trabalho de pesquisa que compilaram numa pequena revista intitulada Letras inclusivas.


Além disso, foi feito, também, trabalho de expressão plástica que incluiu a maquete do castelo de Santa Maria da Feira, miniaturas de fogaça (comestível e decorativa) e um puzzle em cortiça com a imagem da capa.
Mas, o melhor de tudo, foi o carinho, a atenção e o prazer demonstrado pelos alunos da educação especial que tão bem me acolheram.
Há dias assim: em que uma pessoa sai de casa e entra de alma cheia.

12 de janeiro de 2017

EU SABIA QUE ERA CAPAZ! - VERSÃO 2

Rosália sabia que tinha sido roubada.
Afonso roubou-lhe o coração, depois a virgindade e, finalmente, a vontade de continuar a ser jovem e de voar. Em troca, ofereceu-lhe desamor.
Viveu na sombra de um canalha sem escrúpulos. Quanto tempo? Disso perdeu a noção.
Mas, um dia, Rosália quis ser onda e espraiar-se no seu corpo. Fez ouvidos de mercador aos sentimentos negativos. Mudou a fechadura, passou uma esponja no passado e gritou:
-Eu sabia que era capaz!

Desafio Rádio Sim nº 45, da Margarida Fonseca Santos 

EU SABIA QUE ERA CAPAZ! - VERSÃO 1

Desafio Rádio Sim nº 45, da Margarida Fonseca Santos 
Ela andava "com os azeites". O telemóvel tocava vezes sem conta, ela verificava o número e desprezava-o.
- Vai-te lixar! 
Falava para o aparelho como se o desgraçado, que tanto jeito lhe dava, tivesse culpa. 
Depois amargurava-se. Sabia que tinha de resolver a situação, que deveria aceitar ajuda daquela pessoa, mas custava-lhe. Não! Não precisaria de ninguém para fazer o horroroso TPC de matemática.
Atirou-se aos números e aos cálculos. 
- Eu sabia que era capaz! 
Vitoriosa, pegou no telemóvel.

2 de janeiro de 2017

O SOFRIMENTO ENFRAQUECE

Os seus dias andaram com pressa. As festas chegaram ao fim. A maquilhagem foi retirada. 
O novo ano entrou sem mudanças, com a cara carregada de sempre, e ela não o sente como novo. Até porque voltaram os silêncios, alguns carregados de ruídos. 
Do fundo das rugas, olhar o hoje magoa-a. No restolho do tempo, o futuro parece fugir-lhe. 
Mas uma voz dita-lhe: há que correr atrás. A vida é feita de dias e o sofrimento enfraquece.

desafio nº114 da Margarida Fonseca Santos: dar a volta ao ditado popular "o sofrimento enobrece"