26 de junho de 2020

AINDA O XICO POR QUEM ESTOU APAIXONADA

A aula de pilates de hoje foi adocicada pelas vozes de Jorge Palma e Pedro Abrunhosa. E, por coincidência (ou não, vá-se lá saber!), duas canções grávidas da palavra "olhar" ficaram-me no ouvido.

"Tudo o que eu vi,
Estou a partilhar contigo
O que não vivi, hei-de inventar contigo
Sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
Mas quero-te bem, encosta-te a mim."

"Se eu fosse um dia o teu olhar,
E tu as minhas mãos também,
se eu fosse um dia o respirar
E tu perfume de ninguém."

Estes olhares, os das musas dos poetas, não são os do Xico, mas, imediatamente o olhar do Xico me inundou os pensamentos. A aula passou a ser um tanto desconcentrada e o Xico passou a ser a minha musa.


Não se resiste ao olhar do Xico. Um olhar que fala. Um olhar com um brilho húmido que nos toca e nos encanta.

O olhar do Xico é meigo quando lhe damos mimos e nos mima (a toda a hora). É triste quando estamos ocupados e não lhe damos atenção. É curioso quando a campainha toca ou ouve um ruído estranho. É envergonhado quando lhe ralhamos porque ainda faz xixi em casa. É preguiçoso quando descansa na sua cama. É malicioso quando nos desafia para uma corrida ou quando se agarra aos nosso atacadores ou à nossa roupa.
O olhar do Xico diz tudo o que precisamos de saber!
Já não há volta a dar. Tudo o que vivemos partilhamos com ele, o que não vivemos sem ele, inventamos, agora. Entendemos o seu olhar e queremo-lo bem encostado a nós!


25 de junho de 2020

XICO


A chegada de uma criança é sempre motivo de festa e de grande alegria. Seja filho, seja neto. Para filhos já é tarde, a idade já passou. Para netos, seria a altura ideal, mas circunstâncias várias ainda não o permitem. Entrou o Xico. 
O Xico não é um bebé. O Xico é uma pequenina bola de pelo. Dizem que é um cão. Um spitz anão, com um lindo focinho de raposa. Para nós é o furacão que nos invadiu as vidas, há quinze dias, ainda nem dois meses tinha. Um furacão com 680 gramas. Um furacão de alegrias e gargalhadas. 

Sempre gostei de cães e de gatos. Mas sempre recusei ter um em casa. Para evitar preocupações, para evitar trabalho. Para evitar despesas. Para evitar prisão. No fundo, apenas questões egoístas. Os últimos quinze dias superaram tudo e uma lufada de ar fresco soprou cá em casa.
O Xico, afinal, é um bebé. Pelo menos, age como sendo um. Tem os seus momentos para comer, para a higiene, para dormir. Passa praticamente todo o tempo a dormir e, apreciá-lo, é apreciar um bebé no seu sono inocente. Quando desperto, são únicos os momentos de brincadeira, de corridas no terraço, de lambidelas. De carinhos.
O seu olhar é terno e derrete-nos quando nos olha fixamente como querendo dizer que já nos adotou, que somos nós a sua família e que nos adora. E a casa também já é dele e já não tem segredos. Demorou três dias a conhecê-la e chorava sempre que lhe mostrávamos um compartimento novo. Rapidamente, porém, se ambientou e corre tudo, fazendo-nos correr à sua procura, quando desaparece e não sabemos se está dentro de casa ou no terraço.

Se, inicialmente, subir para a sua cama se assemelhava a uma subida do Everest, agora parece um elegante bailarino assente nas patas traseiras.
Em quinze dias, o Xico cresceu. E não para de crescer o nosso amor por ele. Assim como os mimos sem conta.
E, nestes três meses de confinamento, de desordem, de situações atípicas, o Xico foi o mais atípico maravilhoso que nos poderia ter acontecido!





14 de junho de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LIX

Ah! Se eu tivesse poderes! Se eu tivesse saberes para criar um medicamento, a cura de uma doença  tão atual, que, de tão banal, se tornou descomunal!
Tanto que eu gostaria de encontrar a cura. Mas, estupidez não terá cura!

10 de junho de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LVIII


Ao cabo de três meses no Cabo das Tormentas, a paciência esgota-se. Tem sido o cabo dos trabalhos! Cabo da internet, cabo do telemóvel, TV por cabo. Raios! Já não se aguenta tanto cabo, torna-se difícil levar a cabo tantas tarefas.
E ninguém dá cabo do bicho que dá cabo de nós. Sobranceiro, ninguém o vê. Este novo Adamastor não tem uma história de amor para contar, não se verga. Só o Amor faz vergar os monstros.

Desafio nº 210  da Margarida Fonseca Santos (usar, o mais possível, a palavra cabo)


5 de junho de 2020

CLUBES DE LEITURA, UMA REALIDADE

O ato de ler já não é um ato solitário!

Falar em livros e em leituras leva-nos a falar em partilhar esses livros e essas leituras e as redes de partilha proliferam, quer presencialmente, quer nas redes sociais. Graças às tecnologias, que conduzem à criação de espaços de leitura híbridos, em que o mundo digital se cruza com o mundo real, o leitor tem novas experiências e novas dinâmicas de leitura. Ler, criticar, recomendar livros, ter oportunidade de conversar sobre e com os seus autores são um bom motivo para que os Clubes de Leitura sejam uma realidade. 

Faço parte de um Clube de Leitura, na Biblioteca Municipal de S. João da Madeira. Um clube de Leitura existe para quem gosta muito de ler e, sobretudo, para quem gosta de ter com quem conversar sobre os livros lidos. Se o grupo criado é interessante q. b., torna-se um excelente pretexto para sair de casa e conviver tendo os livros como elemento de união. 

As sessões acabam por ser dinâmicas, muito participadas, por vezes acaloradas, por vezes choradas. Umas vezes despertam gargalhadas, outras vezes despertam profundas reflexões, de acordo com os temas dos livros lidos.

Mais do que analisar as obras, o objetivo de um Clube de Leitura é proporcionar a troca de experiências de leitura. A mesma obra, lida por pessoas com vivências diferentes, proporciona análises diferentes, naturalmente. Mas, mais do que análise literária (que também se pode fazer), o mais importante é analisar sensações e sentimentos que o livro despertou em cada leitor. E é muito gratificante haver a possibilidade de conviver, também, com os autores dos livros que aceitem o convite para estarem presentes.

Se não frequenta um Clube de Leitura, deveria pensar nisso. Se não existe um já criado, na sua zona de residência, poderá sempre pensar em criar um. Apenas alguns conselhos:

  • Tenha em conta o público que pretende convidar para fazer parte do seu clube, pois o grupo deve ser coeso;
  • As sessões presenciais devem ter data fixa e funcionar num local aprazível;
  • A escolha dos livros a ler deve ser consensual;
  • O Clube deve ser amplamente divulgado para poder ser alargado.

E onde criar um Clube de Leitura? Na Biblioteca Municipal (se é bibliotecário), na escola (se é professor ou aluno), ou em casa, como fizeram as personagens dos seguintes filmes: O Clube de Leitura de Jane Austen (um clube fundado para se discutir unicamente a obra da escritora inglesa Jane Austen; Do jeito que elas querem (Book Club no original), onde quatro amigas sexagenárias se reúnem regularmente para  lerem e comentarem várias obras até que uma propõe a leitura de As 50 sombras de Grey, o que vai mudar as suas vidas e o modo como encaram a sua sexualidade; A Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata, realizado a partir do livro de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows, cujo enredo decorre em Guernsey, ocupada pelas tropas alemãs durante a segunda Guerra Mundial, onde as pessoas formam um clube secreto a que dão o nome de “Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata”.

Não sendo, de todo, possível criar ou participar num Clube de Leitura presencial, as redes sociais oferecem uma panóplia de escolhas (grupos no Facebook, Goodreads, Whattpad, entre outros), a questão é, apenas, querer.

Se, como disse Umberto Eco, “O mundo está cheio de livros fantásticos que ninguém lê”, um Clube de Leitura vai permitir atenuar esta ideia. Há sempre alguém que já leu um livro que ainda mais ninguém tinha lido e, sugerindo a sua leitura, é menos um nas estatísticas dos livros não lidos.

texto publicado na revista online "A casa do João"

3 de junho de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LVII


ainda ontem
estávamos juntas
bebemos chá
na esplanada
outras amigas vieram
comemos bolo
conversamos
rimos à gargalhada
despedimo-nos
com um beijo

ainda ontem
E hoje?