7 de novembro de 2022

A VIDA DE UMA PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

Desafio lançado aos professores bibliotecários pela Rede de Bibliotecas Escolares

Retalhos da vida de um PB

Para quem não me conhece eu sou a Guidinha uma “filha” do escritor Luís de Sttau Monteiro e gosto de escrever redações embora muitos me critiquem e digam que eu devia parar de escrever porque não sei usar a pontuação e escrevo tudo de rajada e isso é um mau exemplo mas isso não importa nada o que importa são as ideias que me atacam a cabeça e eu tenho de despachá-las de lá para fora e mais a mais o senhor José Saramago também não sabia pontuar e ganhou um Prémio Nobel olarila! e isso é o que importa e o que também importa é o que me fez escrever esta crónica pois o livro onde vivo está em casa de uma professora bibliotecária com a mania dos livros e tem o meu sempre em cima da secretária onde trabalha e eu não quero ser má-língua mas essa secretária está cheia de tralha que segundo ela é o seu material de trabalho pois tem de trabalhar muito em casa uma vez que nas escolas por onde passa é lidar lidar lidar de BE em BE e tem de planear tudo em casa para depois pôr em prática nas escolas então ele é papéis, ele é PC com email Teams redes sociais e não sei quantas plataformas e ferramentas digitais que ela domina, ele é telemóvel, ele é agenda, ele é livros, ele é bonecos e materiais que ela constrói para aquilo que ela chama a hora do conto e é uma canseira para mim ver aquilo tudo e eu lá no meio a observar tanta azáfama parece que a mulher não sabe fazer mais nada na vida, sempre a inventar, sempre a mandar emails e a conversar ao telemóvel ou no Teams ora com colegas ora com alunos que ela não dá descanso a ninguém é vê-la com a desculpa que precisa de conquistar leitores e de envolver os parceiros e de construir o PAA incluindo atividades do PEM e de dar resposta aos desafios da RBE do PNL da DGE e ainda tem de ir às reuniões dos departamentos e do CP e do PADDE e depois passa a vida a fazer projetos e a incentivar toda a gente para participar nos concursos ela diz que é um orgulho ganhar e isso dá pilim ah pois o pilim é muito importante para que as bibliotecas se mantenham ativas sem pilim não se faz nada mas sem empenho também não e ela tem tanto empenho que já teve um incêndio na cozinha quando decidiu fritar batatas e fazer um relatório ao mesmo tempo e foi por isso que comprou um robô daqueles que fazem tudo para ela ir à vida dela e nunca mais fritou batatas que é uma coisa muito perigosa para a educação e apesar disto tudo é um gosto vê-la trabalhar com tanto gosto e só não gosto quando ela bufa que nem um gato assanhado quando tem o MABE à frente dela e quando tem de preencher BD e de fazer PM seja lá o que isso for mas mesmo assim ela já vai nos 60+ e vê a aposentação a chegar e já está a antever um voluntariado numa biblioteca perto de si

PS da PB vítima da má-língua da Guidinha: não assumo qualquer responsabilidade pelas palavras da Guidinha, uma desbocada incontrolável!

NOTAS:

[1] Se não conhecer a Guidinha, esta poderá ser-lhe apresentada no artigo: Ribeiro. F (2006, 18 de dezembro). As redacções da Guidinha. https://amateriadotempo.blogspot.com/2006/12/as-redaces-da-guidinha.html

[2] As siglas:

BE – Biblioteca Escolar

PAA – Plano Anual de Atividades

PEM – Plano Educativo Municipal

RBE – Rede de Bibliotecas Escolares

PNL – Plano Nacional de Leitura

DGE – Direção-Geral de Educação

CP – Conselho Pedagógico

PADDE – Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola

MABE – Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar

BD – Base de Dados

PM – Plano de Melhoria

1 de novembro de 2022

REFLEXÃO DO DIA

Tive uma educação católica e, durante muitos anos fiz parte de um grupo coral da Igreja. Algures no tempo, algo se perdeu, não sei quando, não sei porquê, e, hoje, o ritual da missa não me faz muito sentido. Mas, pelo menos uma vez por ano, neste dia, lá vou. Para acompanhar a mãe e as irmãs e, sobretudo, para estar, momentaneamente, com aqueles que já partiram. Este dia obriga-me a pôr travão no meu ritmo desenfreado e a parar para observar e pensar.

Estar na igreja e observar tornou-se um exercício doloroso. Algumas das pessoas que, na minha juventude eram adultos jovens, estavam lá, velhinhas, trôpegas, numa decrepitude assustadora.  E os outros, os da minha idade, aqueles que só vejo uma vez por ano, aqueles com quem convivi no passado, agora envelhecidos, porque o tempo não perdoa, fazem-me lembrar que também eu já não sou a menina que fui.

No entanto, valeu a pena lá estar. Pelo coro, um concerto nas palavras do padre, que me tocou fundo e me deu paz.

Feitas as contas, a fé (para quem a tem) e a arte (para quem a aprecia) ainda têm o poder de salvar o mundo.