Tive uma educação católica e, durante muitos anos fiz parte de um grupo coral da Igreja. Algures no tempo, algo se perdeu, não sei quando, não sei porquê, e, hoje, o ritual da missa não me faz muito sentido. Mas, pelo menos uma vez por ano, neste dia, lá vou. Para acompanhar a mãe e as irmãs e, sobretudo, para estar, momentaneamente, com aqueles que já partiram. Este dia obriga-me a pôr travão no meu ritmo desenfreado e a parar para observar e pensar.
Estar na igreja e observar tornou-se um exercício doloroso. Algumas
das pessoas que, na minha juventude eram adultos jovens, estavam lá, velhinhas,
trôpegas, numa decrepitude assustadora.
E os outros, os da minha idade, aqueles que só vejo uma vez por ano, aqueles
com quem convivi no passado, agora envelhecidos, porque o tempo não perdoa,
fazem-me lembrar que também eu já não sou a menina que fui.
No entanto, valeu a pena lá estar. Pelo coro, um concerto
nas palavras do padre, que me tocou fundo e me deu paz.
Feitas as contas, a fé (para quem a tem) e a arte (para quem
a aprecia) ainda têm o poder de salvar o mundo.
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