3 de abril de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XXII

Vivemos lado a lado com o medo. Mas, há alturas em que é preciso enfrentá-lo e sair. Para desentorpecer as pernas, para apanhar sol e respirar a primavera.
Hoje, saí com a minha filha para uma caminhada higiénica e de apoio à minha mãe (com a devida distância!) que está sozinha. Sem parar em lado nenhum, embora as padarias abertas convidassem a entrar para tomar um café, comprar um pãozinho ou um bolinho, sem ficar lado a lado com as poucas pessoas que também andavam na rua. Se vinha alguém, no mesmo passeio, mas em sentido contrário, a tendência era, imediatamente, atravessar a rua e mudar para o outro passeio. Mais à frente, a cena repetia-se. O caminho, agora, faz-se em ziguezague.
A caminhada foi acompanhada, apenas, de silêncio. O silêncio das árvores, o silêncio das flores, o silêncio do voo dos pássaros. Um silêncio estridentemente cortado por uma carrinha com um enorme cartaz no tejadilho donde saiu uma voz: FIQUE EM CASA!
E pronto! Lá veio o medo de novo. E o remorso por andar na rua, ao sol. Ficou a sensação de que o o bicho anda no ar e, a qualquer momento nos vai pegar!
- Se o bicho te pega vais ser culpada por andares na rua em vez de estares a mofar em casa! - parece que é o que a voz quer dizer!

Nunca desejei tanto, como agora, ser ave para andar de um lado ao outro num voo despreocupado.
Mas valeu a pena a saída. Por momentos, senti que enfrentava o papão, sem medos. E um bocadinho da mãe veio para minha casa.

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