19 de março de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO VII

Lá fora vive o escuro e o medo avança.
Hoje é o Dia do Pai e decidi enfrentar o medo para te poder atirar um beijo, mas não te dei uma flor.  Não me atrevi a ir comprá-la e as minhas floreiras no terraço estão um caos, só têm ervas. Antes de sair de casa, pensei que, provavelmente, o cemitério estaria fechado. E, estando aberto, colocou-se a questão: quantas pessoas lá estarão? Isso preocupou-me. E é isto! Temos medo das pessoas e já sinto falta dos abraços.
Fui. Cemitério de portas abertas. Três pessoas, apenas, e o silêncio que o lugar requer. Normalmente, quando te visito, o silêncio e o recolhimento trazem algum bem-estar, são momentos em que podemos ficar sós, apenas nós os dois. Hoje, foi diferente. O silêncio impôs-se em todo lado, já não fez diferença.
Mas, por momentos, senti a liberdade de poder conduzir, mesmo que nem dois quilómetros tenha feito. E pude apreciar bandos de andorinhas que vieram trazer a primavera.

Sem comentários: