14 de julho de 2012

CONVERSAS QUE MAGOAM


Há conversas que magoam. Não porque sejam insultuosas ou rebaixantes. Magoam porque revelam uma realidade tão cruel que até dói. Esta, ouvida, hoje, na caixa de pagamento do hipermercado, não foi propriamente uma conversa. Começou por ser um monólogo que a menina da caixa transformou em diálogo, penso que por obrigação ou mera simpatia, pois era eu que estava a ser atendida. O monólogo começou atrás de mim. Uma senhora de aspeto humilde e envelhecido, (certamente de idade inferior à que aparenta), exclamou:
- As cenouras estão por um preço que não se pode. Subiram para o dobro. Ainda há pouco estavam a 30 ou 35 cêntimos e, agora, estão a 75.
E continuou, sozinha, a desfiar o rosário dos preços altos.
Ao fim de algum tempo, a menina da caixa comentou:
- Já estão a esse preço há uma semana. Não sei se há falta e, por isso, o preço subiu.
A senhora continuou:
- Não se admite! Subiram para o dobro. Nem levo!
Paguei e saí, sem abrir a boca, incomodada e culpada. Eu levava cenouras e não sabia o preço delas.

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