21 de julho de 2020

Ano 2020

Número duplamente par.

Número redondo.

Número sonante, aliterado. 

2020 tinha tudo para ser um ano perfeito.

No entanto, não só não está a ser perfeito (e meio ano já está passado!), como se cobriu de feias cicatrizes (acho que não há cicatrizes bonitas!).

O Coronavírus transporta consigo um conjunto de mazelas que, dificilmente, passarão e deixarão marcas profundas na sociedade.

A saúde ficou comprometida. A economia ficou de rastos. As aulas à distância, cansativas, pouco produtivas, deixaram as escolas viradas do avesso. As paciências e tolerâncias esgotaram-se. Penso que, neste momento, já ninguém tem fé no “vai ficar tudo bem”.

As máscaras tornaram-se um acessório de moda obrigatório. Na rua, nas lojas, as pessoas parecem cães açaimados. Já não há sorrisos. Não se veem!

No meio de tantas mortes, este foi o ano da morte de gente que me toca particularmente. Os escritores Luís Sepúlveda, Carlos Ruiz Zafon, Rubem Fonseca. Os atores (tão jovens!) Filipe Duarte e Pedro Lima. O amigo Carlos Faria.

Este foi o ano do lançamento do meu último livro, Os dias são assim. E os dias ficaram assim, a partir de 13 de março. Parados, sem gente nas ruas, sem gente nas escolas, sem gente nos espaços culturais. Como tal, o livro teve o primeiro lançamento e as sessões marcadas que se seguiriam foram canceladas. Frustração!

Julho a acabar e as cicatrizes continuam. Filha em layoff. Marido com um episódio de amnésia global transitória passa um dia no hospital. Dia de stress e, sabe-se lá, quantos mais dias de stress virão à espera de novos episódios!

E tantos outros dias à espera, na indecisão do que será o próximo ano letivo. Setembro aproxima-se e todos estão conscientes das dificuldades e das provações que aí vêm.

Férias marcadas, mas cheias de restrições.

Adivinha-se um reforço da pandemia no outono.

A primavera não se sentiu e o verão…. Veremos!

O mundo precisava urgentemente de tomar o rumo da solidariedade, da igualdade e da inclusão. Veio uma pandemia à escala mundial e as diferenças acentuaram-se assustadoramente. 

Um ano que tinha tudo para ser perfeito tornou-se um Frankenstein medonho que todos querem eliminar das suas vidas. Gostaria de ter um corretor bem possante que o apagasse. Porque não há antirrugas que lhe disfarcem as cicatrizes.


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