16 de julho de 2014

UMA SUGESTÃO PARVA, OU COMO AS TECNOLOGIAS PODEM ALIMENTAR OUTRAS IDEIAS PARVAS

imagem retirada daqui
O Ministério da Educação quer que as escolas passem a ser da competência das Câmaras Municipais. E mais. Segundo notícia publicada no Público, “premeia as câmaras que trabalhem com um número de docentes inferior ao tido como necessário para o respetivo universo escolar.” 
Ora, então, cá fica a ideia para as Câmaras Municipais ganharem muito dinheiro. 
Se eu fosse presidente de CM, haveria de arrecadar o maior prémio pois contrataria, apenas, um professor por disciplina. Este daria as suas aulas via skype a todos os alunos do concelho, em suas casas, muito sossegadinhos, e fecharia todas as escolas o que seria, também, uma grande poupança em eletricidade, água, gás, telefone e materiais escolares. Para quê enfiá-los em salas de aula cheias de gente e de micróbios, com vários professores a passarem-lhes diante dos olhos e a dizerem coisas que não querem ouvir? Munir os alunos com um PC ou um tablet sairia sempre mais barato que pagar a centenas de professores, assistentes operacionais e pessoal administrativo e evitaria conflitos, indisciplina e outras coisas que tais que fazem perder muito tempo e não permitem ensinar/aprender, o principal objetivo do ensino. Para controlar a turma, o Ministro da Educação sugere aos professores que “o caminho fundamental é incentivar à disciplina”. Ora aí está. Aulas em casa. Sentadinhos frente a um ecrã, os alunos são, todos, umas joias! Não há hiperatividade nem défice de atenção que resistam. 
Outra ferramenta para se chegar aos alunos, útil, eficiente e altamente produtiva, é o Facebook. Acabaria o absentismo, assim como o abandono escolar, pois os alunos não largam os dispositivos móveis, logo, estão sempre presentes. E a matéria aí postada seria sempre do seu agrado pois só é possível fazer likes, mesmo que detestem, ou não concordem com o que está escrito. 
Como, segundo dizem as más línguas, os alunos não gostam de escrever, nem de ler, mas estão todos nas redes sociais, o twitter seria o meio ideal para os trabalhos de escrita: 140 carateres, “tout court”, o que também daria pouco trabalho a corrigir. Os jovens não leem? Claro que leem! Tudo o que está na Internet e em suporte digital. Os jovens são nativos digitais, logo, deem-lhes tecnologias. Os professores contratados pela Câmara Municipal (um por disciplina para todo o concelho, não convém esquecer!) fazem uns filmezitos com meia dúzia de tretas, publicam-nos no youtube e os alunos veem-nos. Eles estão lá, sempre atentos! Por sua vez, os jovens também gostam muito de fazer filmes. Vão fazendo alguns, onde mostram o desenvolvimento das suas aprendizagens, e os professores vão-se entretendo a vê-los e a colocar likes (o novo modelo de avaliação), sempre sai mais barato do que ir ao cinema. 
O papel do professor do século XXI mudou, convenhamos. A sociedade mudou, os jovens mudaram. Para quê manter a escola do século XIX? O Ministério da Educação tem visão futurista. Se as Câmaras Municipais quiserem estar muito à frente e ganhar muito dinheiro… é só colocar esta ideia em prática.
Quanto aos alunos, que se danem. Serem tratados como robôs não é problema. Quanto aos professores, que se danem. Que emigrem! Quanto às escolas que fecham, temos pena! Sempre poderão ser recuperadas para turismo e, assim, darão lucro. O que conta são as finanças do país!

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