“Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.”
do poema "Natal e não dezembro", David Mourão Ferreira
Definir o Natal sem usar lugares-comuns será difícil. Definir o Natal 2012, em particular, será mais difícil ainda.
Natal já não é quando um Homem quer porque até a ilusão lhe estão a roubar.
Natal é ajudar o próximo. Mas como, se só posso dar caridade?
Natal é harmonia. Mas como, se não sei o dia de amanhã?
Natal é paz. Mas como, se nasce dentro de mim a insegurança, o medo, a angústia?
Natal é amor. Mas como, se cresce o ódio por aqueles que vivem na ignorância, na insensatez, na incompetência e na frivolidade e me querem forçar a viver também assim?
Natal é seguir a estrela-guia. Mas como, se um nevoeiro cerrado lhe esconde o brilho?
Natal é família. Mas como, se as famílias vizinhas não estão bem porque em suas casas há desemprego, há fome?
Natal é alegria. Mas como, se todos os dias vejo e ouço o que me faz doer a alma?1
É dezembro e, para muitos, dificilmente será Natal.
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1 Acabo de ver e ouvir no telejornal da RTP1:
“Uma mulher tem cinco bocas para alimentar. Ficaria sem almoço se não lhe dessem comida, num refeitório social.”
“Há crianças que só têm uma refeição por dia, a que comem na escola.”
“Isabel Jonet está muito preocupada com os pedidos de ajuda social.”
“Há muitos portugueses que não aguentam mais austeridade.”
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