Quem ruma a sul, mais concretamente à praia da falésia em Vilamoura, com intenção de passar férias isoladas e silenciosas, desengane-se.
Mas a confusão é compensada pela enorme biodiversidade humana.
Gosto de me sentar na areia ou numa esplanada, frente ao mar, e observar.
Além do colorido de guarda-sóis, toalhas, cestos, chapéus e biquínis que transformam a praia em múltiplos arco-íris (gosto do branco, na praia, e do amarelo, e do laranja, e do rosa fúcsia), a variedade de pessoas fascina-me. Pessoas altas e baixas, pessoas magras e gordas; corpos esbeltos e bem torneados, corpos atacados pela celulite e por gorduras indesejadas; peles brancas e peles bronzeadas; peles lisas e peles enrugadas, vincadas pelo tempo; peles secas, peles brilhantes, peles pintadas com artísticas tatuagens; cabelos curtos, cabelos compridos que se estendem costas abaixo, cabelos apanhados em longos rabos de cavalo, ausência total de cabelo em cabeças carecas. Velhos, novos, crianças e jovens. E bebés. Bebés na praia, a qualquer hora do dia. E pessoas que chegam depois do meio-dia. E pessoas que passam o dia inteiro na praia e abrem grandes lancheiras donde saem sandes, bebidas frescas e fruta. E batatas fritas, claro!
E a variedade de línguas estrangeiras misturadas promiscuamente com o português (nos seus variados sotaques e regionalismos) encanta-me. “Queres pom?” – é a pronúncia do norte no seu melhor!
Ouve-se francês (imenso), inglês (bastante), espanhol (muito), alemão (um pouco) apesar de o jornal Expresso desta semana (18 de agosto) trazer um artigo intitulado “Turistas alemães salvam ano no Algarve” (parece que a srª Merquel os enviou para aqui, “que os pobres coitados dos portugueses estão a precisar do nosso dinheiro!”).
Ouvem-se os pregões dos vendedores que inundam a praia e a transformam num grande centro comercial, alguns até com Multibanco.
Passam os exuberantes brasileiros vendedores da bolinha de Berlim e da bolacha americana.
- Olhá bolinha, chegô! Tá chamando, eu vô!
- Chora, nenem chora, que a mamãe te dá a bola!
- Comê, comê, para crescê!
Passam outros exóticos brasileiros vendedores de biquínis.
- Olhó biquíni brasilero originau!
Passam os tímidos vendedores portugueses.
- Água, cerveja, coca-cola.
- Bolacha americana e pastel de amêndoas!
Passam os discretos e calados indianos vendedores de pratas e vestidos de algodão e os também discretos marroquinos carregados de pilhas de toalhas de praia, carteiras e óculos de sol.
E o sol vai queimando. E a água fria refresca todos estes corpos, toda esta gente que veio para sul esquecer a crise enterrando-a na areia ou afogando-a no mar.
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