21 de março de 2018

11 de março de 2018

É MESMO BURRO!

É mesmo burro!
Burro quando atafulha o frigorífico com açúcares e gorduras, ingerindo-os como se o mundo estivesse a acabar. 
Burro quando recusa o ginásio, as caminhadas ou outra atividade desportiva que o arranque do sofá.
Burro quando abusa do isqueiro para acender cigarros, uns atrás dos outros. Queima-os e queima-me a paciência que já não aguenta tanto fumo.Só não é burro quando entra em casa, todos os dias, com uma rosa, a minha flor predileta.

25 de fevereiro de 2018

SEPARADOS DE FRESCO

Vivi sempre despojado de tudo até que ela, dourada e brilhante, se colou a mim num momento mágico. E nada mais nos separou. Nem a água, nem o sabonete, nem o creme amaciador, nem a areia na praia. Unidos para sempre, tinha ouvido. 
Mas, tudo mudou, trinta anos depois, e hoje ela foi-me retirada abruptamente. Foi depois da saída do tribunal e ainda não me habituei à ideia de ficar novamente nu. 
Dedo anelar de recém-divorciada sofre! 



16 de fevereiro de 2018

GRANDE GABARITO!

O diretor Adérito, professor de educação física, lançou um desafio: o primeiro a chegar à meta ganharia a medalha de honra da escola e representá-la-ia nos europeus de atletismo. Bonito serviço arranjou! 
De temperamento esquisito, autointitulado o maior atleta da escola, todo expedito para mostrar o seu gabarito, o rapaz partiu em grande velocidade, antes de ouvir o sinal. Tinha como intuito provar que ninguém o superava. Não correu bem. Mal arrancou, caiu estatelado, o pobre Tito

7 palavras com ITO (por ordem alfabética)

10 de fevereiro de 2018

SEMÁFORO

Chegou demasiado tarde. O sinal verde não esperara por si e o vermelho logo apareceu, impedindo-o de avançar. Acabara de perder a oportunidade de a reconquistar e de reatar a relação terminada por mal-entendidos. 
Fantasiara uma vida a dois demasiado cor de rosa, impossível de manter. Depois disso, desconfiou, enciumou, questionou, não acreditou, dramatizou. Deu para o torto. Quando quis mudar, hesitou. Mas o tempo, entretanto, expirara impiedosamente. 

O semáforo dos afetos não se mantém infinitamente verde! 


(imagem daqui)

9 de janeiro de 2018

MAPA DE LEITURAS DA LUSOFONIA

Mapa de leituras da lusofonia, um projeto de Teresa Pombo que teve a amabilidade de incluir um extrato do meu livro Do cinzento ao azul celeste. Ouvir aqui.

2 de janeiro de 2018

CHEIROS

Luísa é atraiçoada pela memória cada dia que passa. Não reconhece a família que se junta para celebrar o Natal. Cada um vai recordando Natais passados na esperança de lhe acender um fiozinho de luz que lhe ilumine a escuridão em que vive. 
Hoje, entrou na sala e o milagre aconteceu. Os cheiros combinados da lenha cortada, do pinheiro natural, do vinho adoçado com mel, do queijo serrano, da canela nos doces despertaram-lhe um sorriso, trouxeram-lhe vida.
Desafio  Escritiva nº 27 - cheiros

17 de dezembro de 2017

MARCAS

Era um provador, numa loja de roupa, como qualquer outro provador. Um cubículo pequeno com um espelho para refletir as vaidades. 
Por momentos, tudo mudou. Não era vaidade que estava ali, era o tempo a fazer das suas. O tempo, esse inimigo da juventude. O tempo, esse implacável vilão que não perdoa e deixa marcas dolorosas. 
Ela só queria experimentar as calças. 
Eu só queria dar uma opinião e ter a prenda de Natal resolvida. Um problema a menos, se as calças servissem.
(...)
Continua, in Os dias são assim

28 de novembro de 2017

QUE INDIGNAÇÃO!

- Olhe, dona Celeste, estamos muito indignadas. E pode dizer ao seu patrão, eu própria lho direi. Não se admite, chegar à nossa beira e mandar-nos calar porque estamos a falar muito alto e incomodamos os outros clientes! Por amor de Deus! Não estávamos a dizer mal de ninguém, não estávamos a dizer segredos, nem a falar dos namorados das outras. Era só o que faltava! Isto é um local público e não podemos falar alto?! Que indignação!!!! 

Desafio Escritiva 26 – mistérios da natureza humana

21 de outubro de 2017

NO SEU PEITO VIVIA UM PÁSSARO

Hoje foi manhã de escrita criativa com Rui Ramos. 
Um dos exercícios: tirada uma carta, aleatoriamente, de um baralho de cartas do jogo Dixit, em cinco minutos a história teria de estar escrita. 

O resultado:
No seu peito vivia um pássaro e ela deixou que se libertasse quando acordou, estremunhada, cabelos zangados atirados ao ar. Os olhos mal se abriam, ensonados. Ou seriam cansados? Não quis ver-se ao espelho, ignorou-o. Provavelmente não iria gostar da imagem que ele lhe devolveria. Preferiu abrir a janela, deixar que a luz entrasse, que a primavera entrasse, que o seu corpo negro entrasse noutra dimensão. Quem sabe? Talvez atingisse um mundo paralelo onde a cor e a dor não provocam danos colaterais. 
 Apalpou o seio nu e, com o pássaro, chorou.