9 de agosto de 2023

O QUE ACABEI DE LER


Barry é um emigrante de Antígua em Londres e é o protótipo de uma masculinidade viril e chefe de família conservadora.
  No entanto, resolve, aos 74 anos, viver a sua vida em plenitude assumindo a sua homossexualidade para poder, finalmente, viver com o homem que ama desde a adolescência.

Todo o romance é um divertimento, apesar da seriedade do tema e das críticas sociais. E é uma fonte inesgotável de frases fantásticas para excelentes citações sobre variadíssimos assuntos. Além disso, é um emaranhado de sensações que deliciam o leitor através das descrições dos trajes das personagens, do mobiliário, dos pratos caribenhos, das músicas…

A estrutura narrativa faz o leitor ouvir duas vozes de dois narradores diferentes e alternar tempos entre 1960 e 2010.

Barry é o narrador do presente: “Não tenho dúvida nenhuma do que digo porque eu, o excelentíssimo Barrington Jedidiah Walker, te conheço, monsieur Morris Courtney de La Roux, desde que éramos dois reguilas de cara lisa e voz de cana rachada porque os tintins ainda não tinham descido (…)". O tom que usa é cheio de humor e o leitor facilmente adere à personagem e deseja que se livre rapidamente do seu casamento de aparências para viver o seu grande amor.

O tom do segundo narrador, que narra o passado, é pessimista e ressentido. É a voz da própria Carmel, a ingénua mulher de Barry que, nunca suspeitando da orientação sexual do marido e sempre acreditando que a sua falta de interesse por ela se devia a outras mulheres, se recrimina pelas escolhas que fez: viver uma vida falsa, sacrificando a sua felicidade em nome de um casamento “sagrado” que nunca resultou.

Adorei este romance cheio de ritmo e de humor e Bernardine Evaristo, de quem já tinha lido Rapariga mulher outra, tornou-se, definitivamente, uma das minhas autoras preferidas do século XXI pela forma como cativa o leitor através do seu olhar sobre uma sociedade cheia de problemas e da forma como expõe preconceitos enraizados.


 

Sem comentários: