10 de julho de 2023

O QUE ACABEI DE LER

 

Há muito que não lia um livro tão compulsivamente. Uma tarde de sábado foi quanto bastou. Mulheres que não perdoam, de Camilla Läckberg, têm fortes motivos para não perdoar e levam-nos numa corrida vertiginosa até à última página. 

Os capítulos curtíssimos contribuem para essa rápida corrida, assim como a alternância das histórias das três mulheres que, não se conhecendo, urdem o plano perfeito para acabarem com os respetivos maridos que as maltratam, física e psicologicamente, as humilham, as tratam como objetos num desrespeito contínuo que nenhum ser humano pode suportar, apesar da promessa “vou amar-te para sempre”.

Um livro que não deixa os leitores indiferentes e os coloca numa posição de grande parcialidade sempre na esperança que o plano dê certo e a vingança das mulheres se concretize.

“Os bairros residenciais de vivendas eram prisões femininas sem muros, onde as mulheres permaneciam presas por obrigação ou por amor aos filhos. Ingrid não a assassinar um homem, mas libertar uma mulher. Tal como ela se libertara com a morte de Tommy.”

O romance não é, efetivamente, uma obra-prima da literatura, mas aborda temas muito atuais que são denunciados de forma crua, chocante, tal como o é a sociedade. Para tal, Camilla Läckberg inspirou-se no movimento #MeToo para deixar um recado: as mulheres não se devem resignar quando abusam delas e há formas de sair dessas situações de dor e agressão. 

É evidente que, neste livro, a forma de sair dessa situação não é a mais pedagógica, mas também não é esse o objetivo, certamente. Sendo um romance policial, o enredo superou a pedagogia. Consideremos o método usado pelas mulheres uma metáfora; nas entrelinhas, leia-se um mensagem de esperança para a solução do problema de tantas mulheres vítimas de violência doméstica.


Sem comentários: