2 de janeiro de 2021

ANO NOVO

Já nada é como era.

Não quero fotos, não quer registos, não quero recordações.

Quero esquecer. Apagar da memória um ano que vai ficar na História. Gravado para não ser esquecido. Mas eu quero esquecer.

Um ano que mal deixou tempo para sentir a primavera, o verão, o outono. E o inverno chegou e tudo continuou. Mas, todos nós mudamos. Já não somos os mesmos. Já não pensamos da mesma maneira. Já não encaramos a vida da mesma forma. A pandemia mudou o mundo, mudou cada um de nós.

Custa lembrar todos os que partiram. Custa lembrar as festas adiadas. Custa ter de fugir ao abraço. 

Custa não ver as pessoas cara a cara. Custa sentir os sorrisos prisioneiros por trás da máscara. Custa estar constantemente a lembrar que há regras para cumprir. Custa sentir que a liberdade está a escapar. E custa não ser capaz de transgredir, arriscar e viver como se nada se passasse. 

Custou enfrentar o Natal. Contra tudo, o Natal chegou. E, com ele, o mesmo brilho das luzes, o mesmo glamour da mesa, os mesmos odores da canela e do açúcar. O mesmo estralejar do óleo a fritar. Os mesmos embrulhos das prendas que, há muito, deixaram de ser surpresa.

Mas, a alegria não é a mesma. São anos de tradições, de festa e de canções. São anos de cumplicidades e de partilhas. Tudo quebrado!

E os cacos vão ser difíceis de apanhar e de colar. Mesmo colados, se for o caso, as cicatrizes vão lá estar. E doem. 

Hoje é ano novo. E parece que é tudo novo mesmo. Por ser diferente. Não há nada do que era habitual. Não há roupa nova, a roupa velha tem primazia. Não há unhas arranjadas. É dia de ir para a cozinha. Não me lembro de ter de cozinhar no Ano Novo. Não há a canja que cada um come à medida que vai chegando. Não há rabanadas nem bilharacos. E a comida vai para a mesa sem exageros. Come-se menos. Não há conversas nem risos partilhados com as irmãs. Mas há um cão que tem de ser levado a passear à rua, deserta. Não há brindes com champagne.  Mas há gavetas arrumadas. Não há abraços nem beijos de Feliz Ano Novo! O ano está a começar mesmo novo, sem tradições. Quanto a feliz…


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