Desafiada pela escritora Margarida Fonseca Santos a redigir pequeníssimos contos com, exatamente, 77 palavras, reduzi dois, escritos anteriormente, sofri muito e eis o resultado publicado aqui:
1.
Sento-me, desenho e vislumbro o Sena que desliza ao som de acordeões. A Noite quer entrar. Traja um vestido de veludo negro estrelado. Como reparou em mim?
- Desenha-me – pede.
Hoje, veio sozinha sem a inseparável amiga Lua.
Desenho-a, timidamente. Traço a traço.
- Está lindo! Nunca me pintaram com tanta perfeição.
A Manhã chega, estremunhada. A Noite vai partir.
Adoro este vigésimo andar. Fica afastado da rua mas perto do céu. Aqui, a Noite chega primeiro.
2.
Marci é simpático, meigo, desengonçado. Observa tudo ao redor, com os três olhos bem abertos. As longas antenas captam sons da casa e da rua: música a tocar, gente a falar, carros a buzinar. Mas não está confortável onde o alojaram. O dono cresceu, já não dorme naquele quarto tão arrumado. Marci sente-se só, enjoado.
Quer brincar, não tem com quem.
Quer conversar, não há ninguém.
Quer ver mundo, sair. Que tristeza! Não mais se poderá divertir?
Quer ver mundo, sair. Que tristeza! Não mais se poderá divertir?
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