Nuvem de flores
São borboletas em voo manso
O rosto de um deus
Se leio, quando leio, porque leio, sou mais feliz.
No Dia do Livro Português, que se comemora em 26 de março, eis os meus. São 7. Cinco são apenas meus; dois são antologias, com os textos vencedores de concursos de escrita, onde estão publicados dois contos meus.
A data foi criada pela Sociedade Portuguesa de Autores com o intuito de destacar a importância do livro, do saber e da língua portuguesa em todo o mundo.
Foi escolhido o dia 26 de março para esta celebração pois foi neste dia, em 1487, que se imprimiu o primeiro livro em Portugal: o “Pentateuco”, em hebraico. Ele saiu das oficinas do judeu Samuel Gacon, na Vila-a-Dentro, em Faro.
Há dias assim, e muitos foram,
em que a raiva corria nas veias
Há dias assim, e tantos se repetiram,
em que as lágrimas jorravam sem esteios
Há dias assim, e tanto se prolongaram,
em que o medo tolhia as ideias
Há dias assim, e tanto se demoraram
em que apenas se ouvia o eco do silêncio
que nascem iluminados
que se levantam e se revoltam
que abrem portas tanto tempo cerradas
que dão lugar ao rumor das palavras libertadas
que se vestem de cravo vermelho e fazem da cidade um jardim
Sim! Há dias assim
em que o tempo deixa de contar
e se transformam num poema com tempo e com vagar
Num
jardim, jaziam esquecidos um regador metálico, apaixonado pelas elegantes
roseiras, um pedaço de madeira, marcado por cicatrizes de aventuras passadas, e
um charuto queimado, saudoso do seu fumo adocicado.
Cansado
da inércia, este trio peculiar uniu-se para criar uma instalação artística e
chamar a atenção.
O
regador suportou a tábua, transformada em tela, à qual o charuto
ofereceu novas texturas.
Nela colaram-se folhas soltas, arrastadas pelo vento.
Já
não eram inúteis. Eram, agora, arte no jardim.
Maria Coruja lembra-se, repentinamente, da sua tia-bruxa, uma figura enigmática e misteriosa que já quase esquecera por não a ver há imenso tempo. Abana a cabeça, para espantar este pensamento, e continua a preparar o caldo de ervas e especiarias cujo aroma se mistura com o cheiro a incenso. Contudo, continua a pensar insistentemente nela. Porquê?
- Olá, querida sobrinha. Espantada?
Não era possível! Tão insólita visita só poderia significar uma reviravolta mágica na sua tão monótona vida!
É sempre um prazer colaborar com quem vive a ajudar os outros. Obrigada pela confiança, Ajudaris. O mundo precisa, muito, de gente solidária!
E a questão coloca-se: o que tem a ver o Natal (palavra no título) com o poema associado ao 25 de Abril e com a imagem da capa com cravos vermelhos, símbolo da revolução e da liberdade, espetados num pinheiro de Natal?
A curiosidade do leitor rapidamente é sossegada pela narradora que, logo no início da narração, dá a resposta: O Natal aproxima-se e o seu avô não sabe o que é o Natal. O seu avô está duplamente esquecido (de si próprio e pelos outros). Tão esquecido, que responde, quando lhe perguntam quem é, “Ninguém”, como o Romeiro do Frei Luís de Sousa.
Quando o avô decide falar, a neta ouve-o falar de um Natal passado há 50 anos. Um Natal “inteiro e limpo”, em que as pessoas vieram para a rua. Soldados e mulheres. E flores. “O povo na rua, a guerra no fim, o dia de festa”.
Sim! Era Natal nesse dia porque homens e mulheres puderam estar juntos, a guerra tinha acabado, havia países novos, os militares não dispararam.
Era Natal!
O narrador é uma personagem fantástica pelas escolhas de
vida que fez, por assumir estar contra tudo o que para os outros é normal e por
ter coragem de ir contra todas as opiniões. A sua suposta solidão junta-se a
outra solidão, a da estranha vizinha que coleciona caixotes de tralha
catalogada e fotos que não revela.
Uma narrativa com tempos alternados, histórias de vidas
cruzadas, intercaladas, intrincadas. Um romance com muitas histórias dentro,
cada uma mais intrigante do que a outra. Em torno das histórias do José, giram
as histórias das personagens que fazem parte da sua vida: as histórias da mãe,
do pai, da avó, da Cátia, da vizinha, dos retornados, dos cães.
"Que resultados
obtemos quando se juntam duas solidões?"
Neste caso, solidão + solidão = partilha, apoio, confiança,
diálogo. Porque “precisamos de alguém com quem falar.”
Seja uma pessoa, seja um cão no meio do caminho, "Ninguém
entra na nossa vida por acaso."
Depois de ter lido A gorda e, agora, Um cão no meio do caminho, Isabela Figueiredo está, definitivamente, na lista das minhas preferências.
Tão perdida, abandonada.
Dificilmente resistiria sem ajuda.
A solidão acentuava-lhe o sofrimento.
Desorientada, em equilíbrio instável, grasnava aflita.
Ficou ali, quieta, asa ferida, voo impedido.
Especada no alto da falésia, procurava o bando.
Na forte ventania que soprou repentinamente, vislumbrou a oportunidade.
Agarrar-se-ia desesperadamente a algo que a salvasse, então decidiu arriscar.
Partiu nas asas do vento, deixou-se baloiçar, esqueceu a dor, relaxou.
Não era uma solução planeada, apenas um acontecimento inesperado, mas talvez funcionasse.