20 de março de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO VIII

Faz uma semana que tudo começou.
Hoje, sexta-feira, seria dia de trabalhar na biblioteca, de manhã (às vezes noutra biblioteca à tarde, quando é preciso). Seria dia de espairecer da semana de trabalho. Seria dia de ter uma relaxante aula de pilates no ginásio. Seria dia de ir ao cabeleireiro. Seria noite de encontro com a família, à  volta de uma mesa bem servida e recheada de conversas. E de tricô.
Seria noite de peregrinação poética na cidade onde moro.
Mas não foi nada disto. O país está em estado de emergência, desde quarta-feira passada, numa tentativa desesperada de travar o bicho. Parece que está a dar algum resultado, mas o fundo do túnel está longe.
O dia seria de... Mas não foi.
Foi dia de mais um banho de assento a enfrentar a tecnologia. Experiências no Teams, partilhas no Facebook e em seis Whatsapps, publicações no Padlet e no Youtube, telefonemas.
Foi dia de aniversário de uma irmã. Sem beijos nem abraços. Apenas parabéns à distância.
Foi dia de passar a ferro.
Foi dia de fazer pão.
Foi dia de chuva que veio trazer a primavera.
Foi dia de escrever um haiku. Porque ainda há  beleza nas palavras mais simples (algumas deveriam ser proibidas de existir!).
CHUVA 
Por entre as tuas gotas
(cais, implacável!)
Vislumbro dias de sol.

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