17 de março de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO V

Desde que estou em casa (sexta-feira passada, pelo meio da tarde), só saí ontem para ir levar plásticos e papel ao ecoponto que fica no cimo da minha rua. Aproveitei para dar uma corrida no regresso.
Só hoje tive mesmo de sair para ir ao supermercado. Três bocas em casa precisam de alimento e há coisas que têm de ser feitas, caso contrário não se morre da doença morre-se da cura!
E foi surreal! Senti-me completamente mergulhada num filme de terror, vivido noutro planeta, noutra dimensão!
Pessoas a entrarem no supermercado à vez. Pessoas com luvas e máscaras. Pessoas com olhares desconfiados como se quem está a uns metros de distância fosse inimigo a abater. Funcionários a alertar para as tiras no chão a demarcar distâncias.
E o sol sem querer saber e a brilhar, a convidar para o passeio, para o convívio!
As notícias não são animadoras. O número de pessoas afetadas subiu para 448. 
Trabalhemos para esquecer. Os alunos começaram a enviar os trabalhos que deveriam realizar no horário normal de aulas. Espero bem que Luís de Camões os ajude a ultrapassar o problema atual. O trabalho, afinal, não é trabalho, é ler poesia. E escrever sobre o mundo e o seu desconcerto. Vamos tentar escrever um conto coletivamente, o desafio já foi enviado.
Tarde de catalogação e de trocas de mensagens com alunos.
As notícias chegadas a meio da tarde não são animadoras. Em Ovar foi declarado estado de calamidade. Há famílias inteiras infetadas!
Pelas 17h, aula virtual sobre utilização do Edmodo. Não há paciência com a falta de paciência de certas pessoas. Às 17h, hora marcada, imensos professores já tinham entrado no site, mas a sessão não começava. Problemas técnicos, suponho! Mas não faltaram comentários depreciativos sobre o atraso. Por vezes tenho vergonha de ser portuguesa. Por vezes tenho vergonha de ser professora!
(Ainda bem que é só por vezes!!!)
Hoje não me apetece escrever mais, embora o dia ainda não tenha acabado.

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