22 de março de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO X

Finalmente percebi por que motivo as pessoas andam a açambarcar tanto papel higiénico. É porque tudo isto que se está a passar é uma grande merda! Do tamanho do MUNDO!
E lembrei-me de tantos livros que relatam a mesma merda, as mesmas angústias, as mesmas formas de enfrentar o touro furioso!
A começar pelo meu livro O santo guloso. Uma fábula para contar às crianças a peste negra da Idade Média, onde pessoas e animais morreram em doses industriais. 
E lembrei-me da Anne Frank (e de todos os outros livros que têm como cenário os campos de concentração). 
Anne Frank não é personagem, não é ficção. Viveu em clausura durante dois anos. E não foi em sua casa onde tinha todos os seus objetos pessoais e o seu conforto. E não tinha televisão, nem Internet, nem redes sociais, nem podia fazer videoconferências, nem estudar em teletrabalho, nem sequer gritar alto para espairecer.
E aproveitei para reler a história, lendo o livro em diário gráfico.
O que nos resta, então? Ler. Escrever. Ver filmes. Restam-nos as palavras, em suma. A vida há de regressar em toda a sua plenitude. Haveremos de voltar à escola, ao ginásio, aos parques, aos cinemas, aos restaurantes, ao convívio, aos abraços. Entretanto, enquanto isso não acontece, refugiemo-nos nas palavras. E lembrei-me de uns acrósticos antigos. Fui buscá-los:
I
Palavras soltas preenchem
A folha em branco da vida;
Libertam a angústia e a solidão,
Alimentam a verdade.
Violentas, quando ferem e magoam;
Relaxantes, quando amam.
Acolhem segredos.
Silenciosas, gritam.

II

Ler é lazer.
Elevado ao infinito
Resulta em prazer.
III

Ler+ é fazer uma festa
E deixarmo-nos embriagar pelo cheiro dos livros.
Indicando-nos caminhos a percorrer,
Tiram-nos a solidão.
Um a um, cada livro lido
Resplandece em nós.
Alimenta-nos a alma
Seda-nos o corpo.


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