18 de março de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO VI

A situação está a agravar-se. O número de infetados, hoje, subiu para 642. O Presidente da República decretou estado de emergência. O Primeiro Ministro apela: "Para salvar vidas é preciso que a vida continue".
O Mundo está a sofrer e o fim não está à vista.
Olhar à nossa volta é desolador. Assistir às notícias na televisão é desolador. Seguir as publicações no Facebook é desolador.
Por muito que me queira abstrair com trabalho, é quase impossível, a menos que atire com o telemóvel para bem longe.
Parece que há um silêncio sepulcral no meio de tanto ruído nas redes sociais e nos media.
Um silêncio de respeito por todos que foram infetados por um vírus abusador que não escolhe por onde passa. 
Um silêncio de respeito por todos aqueles que estão na linha da frente para que nada falte a quem precisa.
Um silêncio de respeito por aqueles que ficaram completamente sós fechados em casa.
Um silêncio de respeito pelo medo que nos tolhe a todos.
E neste momento já sinto falta do barulho da escola, dos gritos dos jovens sempre cheios de energia, dos abraços das crianças, das conversas...
Parece que já não ouço o trânsito na rua. Da minha janela, apenas vislumbro os vizinhos dos prédios por trás do meu. Um que pedala na varanda. Uma que sacode tapetes à janela. Outro que fuma um cigarro no terraço. Apenas o grasnar das pombas e o voo da cegonha, que se passeia pelo alto do meu quinto andar, indiferentes ao vírus, mostram vida.
Até o carteiro que vem trazer uma encomenda não é recebido da mesma forma. Assinou por nós, demos-lhe autorização. A encomenda veio pelo elevador, ficou fora de portas, foi desinfetada e ficou a arejar antes de ser aberta. 
Até quando?

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