8 de abril de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO XXVII

O bicho


Na noite de breu, a voar,
O bicho chegou, a pouco e pouco avançou,
De sineta na mão, ao mundo anunciou
Que é preciso mudar
Que é preciso respeitar

À roda do mundo voou
O medo espalhou
E, ufano, questionou:
Quem me ousa enfrentar?
Quem me quer atacar?
De quem são os corpos onde me alimento?
Quem mantém a esperança que não acalento?

E à roda do mundo continuou a voar
E no centro do mundo o medo a aumentar

Mas o homem do leme enfrentou-o e disse:
«Aqui ao leme, não me deixo abater,
O meu povo não vais vencer.

E o homem do leme cumpriu e disse:
Povo que sabes combater
À rua não vais sair
Vais cortar as asas e no ninho ficar
Vais persistir
Vais resistir
E no futuro acreditar.

O buraco é fundo
Mas a luz na noite surgirá
Os nossos medos se calarão
E cantaremos em união.

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