Barry é um emigrante de Antígua em Londres e é o protótipo de uma masculinidade viril e chefe de família conservadora. No entanto, resolve, aos 74 anos, viver a sua vida em plenitude assumindo a sua homossexualidade para poder, finalmente, viver com o homem que ama desde a adolescência.
Todo o romance é um divertimento, apesar da seriedade do
tema e das críticas sociais. E é uma fonte inesgotável de frases fantásticas
para excelentes citações sobre variadíssimos assuntos. Além disso, é um emaranhado
de sensações que deliciam o leitor através das descrições dos trajes das
personagens, do mobiliário, dos pratos caribenhos, das músicas…
A estrutura narrativa faz o leitor ouvir duas vozes de dois
narradores diferentes e alternar tempos entre 1960 e 2010.
Barry é o narrador do presente: “Não tenho dúvida nenhuma do
que digo porque eu, o excelentíssimo Barrington Jedidiah Walker, te conheço,
monsieur Morris Courtney de La Roux, desde que éramos dois reguilas de cara
lisa e voz de cana rachada porque os tintins ainda não tinham descido (…)". O tom
que usa é cheio de humor e o leitor facilmente adere à personagem e deseja que
se livre rapidamente do seu casamento de aparências para viver o seu grande
amor.
O tom do segundo narrador, que narra o passado, é pessimista
e ressentido. É a voz da própria Carmel, a ingénua mulher de Barry que, nunca
suspeitando da orientação sexual do marido e sempre acreditando que a sua falta
de interesse por ela se devia a outras mulheres, se recrimina pelas escolhas que
fez: viver uma vida falsa, sacrificando a sua felicidade em nome de um
casamento “sagrado” que nunca resultou.
Adorei este romance cheio de ritmo e de humor e Bernardine Evaristo, de quem já tinha lido Rapariga mulher outra, tornou-se, definitivamente, uma das minhas autoras preferidas do século XXI pela forma como cativa o leitor através do seu olhar sobre uma sociedade cheia de problemas e da forma como expõe preconceitos enraizados.
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