31 de maio de 2020

DIÁRIO DE UM TEMPO DE MEDO LVI

Nova fase de desconfinamento, mais abertura.
Finalmente pude usufruir de um prazer tão simples como tomar um café numa esplanada. Quase vazia, é um facto, com as mesas afastadíssimas umas das outras, mas valeu a sensação de liberdade, um café, ao ar livre, dois meses e meio depois do último!
São pequenos prazeres como este que o bicho coronavírus nos roubou. Outro prazer roubado: o de entrar numa biblioteca para requisitar um livro ou numa livraria para o comprar. São espaços que nos transmitem tantas sensações! Ver os livros alinhados e percorrer as estantes até encontrar o que se pretende. Sentir o seu cheiro. Tactear as suas folhas e sentir a textura do papel. E, por incrível que pareça, as sensações auditivas que estes espaços proporcionam, mesmo que se encontrem vazios, são incríveis. Dentro dos livros há vidas e eles gritam para chamar a nossa atenção. Querem ser levados.
Este prazer ainda não foi recuperado. O livro, encomendado na Internet, chegou a casa. Mas não é a mesma coisa!
Por outro lado, se muitos prazeres foram roubados, outros vieram substitui-los. Observar a Natureza que, repentinamente, passou a revelar-se despudoradamente, faz-nos (re)descobrir o quanto ela é bela em toda a sua simplicidade. Não me lembro de, nos anos transatos, ter visto as amoreiras floridas de forma tão provocadora!

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