24 de abril de 2019

VIAGEM À POLÓNIA

A visita à Polónia, de 12 a 16 de abril, revelou-se um autêntico mergulho na História. Vinte alunos do ensino secundário e quatro professoras da escola secundária João da Silva Correia puderam conviver, partilhar histórias e aprender. Mais do que um manual escolar, a viagem permitiu o contacto direto com os locais, as gentes, a língua, proporcionando experiências sensoriais e profusão de cultura. A cidade de Cracóvia é uma cidade que resistiu a muitos tumultos e sobreviveu à ocupação alemã, ao contrário das principais cidades polacas que ficaram em ruínas. Ali, o grupo calcorreou ruas e ruelas, parques, praças e jardins. Entrou em livrarias, palácios, museus, igrejas e catedrais de grande beleza. Nos imensos bares, restaurantes, tasquinhas e salões de chá, saboreou os famosos pierogi (de carne, espinafres ou queijo) ou os ruskies (com batata, cebola e queijo) e os típicos bagels (pão em forma de anel com crosta polvilhada de sal e sementes de papoila).

Cracóvia exibe, decididamente, dois lados bem opostos: o lado ancestral, com monumentos góticos, fachadas antigas, caleches à espera dos clientes, e o seu lado moderno e cosmopolita, tudo iluminado pelas flores coloridas que proliferam em todas as esplanadas, parques e pátios ajardinados.




Foi com bastante expectativa que o grupo esperou o aparecimento do “trompetista de Cracóvia” que, do alto de uma das torres da igreja de Santa Maria, faz soar o hejnal, ritual que lembra a lenda segundo a qual, em 1241, o trompetista fora mortalmente atingido por uma flecha que se lhe atravessou no pescoço, quando avisava a cidade do ataque dos mongóis. 
Foi sentida como mágica a colina que exibe o sumptuoso Castelo de Wawel, o mais completo exemplo de arte medieval, renascentista e barroca, e a catedral onde foram coroados e sepultados quase todos os reis polacos. Na base da colina, nas margens do rio Vístula, um dragão que cospe fogo lembra a lenda do sapateiro que o derrotou com uma ovelha cheia de enxofre, casou com a princesa, tendo-se tornado rei e erigido o castelo.




A parecer um conto de fadas foi a visita às Minas de Wieliczka, um complexo grandioso de túneis onde surgem lagos salgados e se abrem várias câmaras decoradas com esculturas, baixos relevos e recriações históricas. Aqui, o grupo tomou conhecimento de mais uma lenda polaca que narra a história de uma princesa húngara, prometida a um príncipe polaco, que pediu ao pai sal de gema, algo muito raro na Polónia, e atirou o seu anel ao poço da mina ordenando-lhe que a seguisse até Cracóvia. Quando chegou, pediu a alguns mineiros que escavassem um buraco e eles encontraram um pedaço de sal e o seu anel. Estas minas têm uma profundidade de 327 metros (apenas 235 metros estão acessíveis aos visitantes) e o seu interior é outra cidade: numa capela, “a catedral subterrânea da Polónia”, todos os domingos há missa e, por vezes, também lá decorrem concertos e casamentos. 





A visita ao Bairro Judeu de Kazimierz, à Fábrica se Schindler e aos campos de concentração Auschwitz-Birkenau foram o ponto alto da viagem. São locais que deixam marcas a quem os visita, onde se sente a discriminação e se respira injustiça sofrida pelo povo judeu antes e durante a II Guerra Mundial. O Bairro Judeu faz lembrar um bairro-fantasma com o seu empedrado e fachadas gastas. No gueto, agora vazio, parece que alguém ainda respira e pede socorro. Na antiga fábrica de Schindler, agora museu, os visitantes assistem a várias exposições interativas: as imagens, associadas a sirenes e tiros de canhões, colocam-nos em plena guerra. Em Auschwitz-Birkenau resistem todas as provas vivas das atrocidades cometidas pelos nazis. Numa viagem dolorosa a um passado, não tão distante assim, sente-se fundo o quanto o ser humano pode ser perigoso. E um frio inexplicável percorre o corpo de todos aqueles que ali vão. Tudo ali é cruel. O arame farpado, os imensos blocos de tijolo vermelho onde sobreviviam os prisioneiros, os seus objetos pessoais amontoados e expostos ostensivamente em vitrines (próteses, malas de viagem, calçado, óculos, roupa, louça e toneladas de cabelo, muito dele ainda entrançado) chocam, assim como chocam os corredores com fotografias dos prisioneiros. 


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E conclui-se que a palavra desumanidade não chega para definir o que se passou durante este período negro da História. No fim da viagem, resta uma pergunta inevitável para a qual não há resposta: como é possível que pessoas cometam tal barbaridade a outras pessoas? 
Os museus do Holocausto existem para que a História não seja esquecida e não se repita porque, citando George Santayana, “aquele que não lembra a história está condenado a vivê-la novamente”. Ter visto jovens alunos a chorar perante aquilo que puderam observar foi a sensação plena do objetivo cumprido. A História entrou-lhes (entrou-nos!) na alma, coisa que os manuais escolares não permitem!

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente! Emocionaste-me!