30 de dezembro de 2016

O QUE ACABEI DE RELER

Os livros mudam o destino das pessoas, mas as pessoas também mudam o destino dos livros. Poderia ser a frase sinopse deste livro. 
Bluma, uma professora de Cambridge, é atropelada enquanto lia o segundo poema de Emily Dickinson. Bluma morre no início da história, mas a sua presença mantém-se ao longo da trama. Mulher com uma personalidade marcante, marcou quem com ela se cruzou, quer intelectual quer fisicamente. Os livros fizeram parte da sua vida, influenciaram o seu modo de vida e houve um que acabou por ser o motivo da sua morte (pág. 51). 
O seu substituto, narrador desta história, recebe pelo correio uma misteriosa encomenda, vinda de Buenos Aires e endereçada a Bluma, que contém o livro A Linha de Sombra, de Joseph Conrad, cuja capa incrustada de cimento traz uma dedicatória, escrita por ela, a Carlos Brauer. 
O narrador não descansa enquanto não descobre o mistério deste cimento no livro. Vem a conhecer Agustin Delgado numa viagem pela Argentina e pelos seus meios literários. Este apresenta-lhe a história de Carlos Brauer e da sua obsessão pela literatura (pág. 26, 32, 33, 34), colecionador de livros raros e de primeiras edições, o qual lia os autores do século XIX à luz das velas e determinados escritores ouvindo músicas de compositores da mesma época, entre outras obsessões, e que mantinha com os livros uma relação de grande prazer, chegando mesmo a ser erótica, na forma como os usava (pág. 35, 36). 
Mas, a certa altura, os livros começam a ser um peso para ele, um pesadelo: invadem-lhe a casa e não os encontra, fazem-lhe perder os amigos e o dinheiro e viver na solidão (pág. 39,40). É, então, que começa a mostrar sinais de loucura na catalogação dos livros, recusando juntar autores cujo relacionamento na vida real não é o mais harmonioso (pág. 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 52, 57). E a loucura atinge o seu ponto máximo depois de um incêndio que lhe destrói o sistema de catalogação e se torna impossível encontrar o livro pretendido. Decide partir para uma praia isolada e, num ato de completa insanidade, constrói uma casa feita de tijolos de papel: a sua imensa biblioteca. Ao longo do livro, no narrador leva o leitor a confrontar-se com referências a várias obras da literatura universal que, no fundo, são as protagonistas desta história. 
Em suma, a biblioteca que vamos construindo é uma vida, mais do que um somatório de livros… “Uma biblioteca é uma porta no tempo” e “um leitor é um viajante através de uma paisagem que se foi fazendo. E é infinita” (pág. 35). 

Neste pequeno romance (ou será longo conto?) revelam-se os limites a que a paixão pelos livros pode levar um ser humano. Os livros são aqui descritos como objetos com vida própria, podendo influenciar decisivamente a vida dos seus donos. 
Será, também, uma metáfora da vida: a perda conduz ao desgosto, à irracionalidade e a atos desesperados. 

A casa de papel é um livro para quem gosta de livros com livros dentro.

1 de dezembro de 2016

APRESENTAÇÃO DO LIVRO "EM POUCAS PALAVRAS..."

Em poucas palavras. Microcontos. Para o leitor que está habituado a grandes narrativas isto pode parecer estranho. No entanto, no século XX, Tolstói, Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e Ernest Hemingway praticaram este género em formato breve. Um dos contos mais pequenos que se tornou famoso pertence ao escritor guatemalteco Augusto Monterroso e tem apenas uma frase com trinta e sete letras: “Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.” 
Neste início do século XXI, o microconto tem sido uma tendência e adquirido diversas formas, sobretudo após o movimento modernista. Mesmo não havendo nenhuma regra clara, uma das definições para o microconto seria o limite de 150 carateres. Hoje, fala-se em nanoconto quando o conto tem apenas até 50 palavras. 
Sendo uma narrativa minimalista, consiste em exprimir uma ideia em poucas palavras, dizer tanto, em tão pouco, o que constitui algo complexo porque exige poder de síntese, precisão, subtileza e expressividade. 
Carlos Drummond de Andrade já dizia que “escrever é cortar palavras”. Hemingway sugeriu: “Corte todo o resto e fique com o essencial”. Winston Churchill deu um sábio conselho: “Das palavras, as mais simples. Das simples, a menor”.
Mas é bom que se tenha em conta que: 
• Um microconto não é uma história resumida nem uma história sem profundidade. 
• Um microconto não é para escritores que gostam de explicar tudo. Não há espaço, portanto, nem para descrições nem para pormenores. 
• Um microconto não é para escritores que não gostam de andar à procura de palavras. 
• Um microconto é para escritores que, quando têm ideias, gostam de pensar em imagens. 
• Um microconto não mostra, sugere. 
• Um microconto não é para leitores que não estão dispostos a ler nas entrelinhas nem a usar a imaginação. 
• Um microconto não é para leitores que gostam de tudo muito bem explicado. 
• Um microconto é para leitores que sabem que as boas histórias não se medem aos palmos e que gostam de ficar a saborear e a imaginar o que não foi escrito. Cabe, portanto, ao leitor preencher a narrativa e os silêncios que ela possa ter. 
Microescrever em 77 palavras é, assim, uma corrida constante ao dicionário numa busca de palavras exatas, necessárias e suficientes e numa procura incessante de sinónimos, para tornar compreensível e expressiva a ideia que se quer transmitir, de preferência uma boa ideia! 
É contenção de palavras, pelo que é preciso saber onde cortar para o texto não perder qualidade e para que a boa ideia não se esfume. 
É luta com a sintaxe. 
É jogo com a semântica. 
É valorização da pontuação. 
É busca de sonoridades e brincadeira com o ritmo das frases o que transforma o texto, não raras vezes, num trecho musical e/ou poético. 
Resumindo, o microconto tem: 
• Uma estrutura narrativa com um conflito e apresenta a resolução.
• Um cenário onde se movem muito poucas personagens (três personagens já lá não cabem!!!). 
• Uma história que leva tempo a ser digerida, saboreada e que, muitas vezes, faz doer a quem a escreve. 
O projeto microcontos em 77 palavras exatas é da autoria da escritora Margarida Fonseca Santos. Em 2011, saltou para a blogosfera e mora no blogue http://77palavras.blogspot.pt onde são publicados todos os microcontos, enviados por email, de todos os que queiram participar, seja qual for a idade ou a nacionalidade. 
Porquê 77 palavras? Segundo a escritora, a resposta é bastante simples: “o número é, em si, divertido.” 
Inicialmente, os textos escritos não obedeciam a qualquer tema, mas, a partir de certa altura, passaram a obedecer a desafios lançados de dez em dez dias. Com a chegada do desafio número 100, os participantes deveriam explicar por que motivo escrevem microcontos e terminar com a expressão “e foi por isso que me escrevi.” E foi, então, que me surgiu a ideia de explicar, em apenas 77 palavras, para que trabalho a escrita no ensino: 
“Fazer soltar palavras adormecidas é tarefa de herói. Eles mostram-se renitentes, escusam-se a usá-las pois são muito novos, inexperientes. Primeiro, têm de encontrar as palavras certas na densa floresta onde habitam. Depois, têm de aprender a acariciá-las e beijá-las (como príncipe que desperta a Bela Adormecida), devagarinho, para não estremunharem nem estranharem sair do sono profundo. Foi assim que tudo começou. Ensinar os jovens a escrever. Provocar. Insistir. Não desistir. E foi por isso que me escrevi.” 
Gostaria, ainda, de partilhar convosco as palavras de uma amiga, Teresa Stanislau, que tem acompanhado a escrita destes meus pequenos textos: 
“Para mim , são belas reflexões, inspiradas em instantes de luz dos quotidianos prosaicos de qualquer um ou de todos , daqui ou de qualquer lado .de agora ou de todo o tempo ... Que tu agarras com mestria!” 
Termino citando Ana Hatherly, mestre do microconto, que no seu livro Tisanas escreveu este: “O autor e o leitor: estamos no limiar do prazer. Um de cada lado como anfitriões esperando tensos. Vivemos a problemática do segredo - se for divulgado deixa de existir se não for torna-se um horrível tormento. Alguns mestres dizem que o próprio do prazer é não poder ser dito.” 
Com a publicação deste livro, optei por romper o segredo para não se tornar um horrível tormento. Espero que o leitor o agarre e que lhe dê momentos de reflexão e de prazer. De magia também.

LANÇAMENTO DO LIVRO "EM POUCAS PALAVRAS..."

Foi um serão de palavras quentes, ambiente de festa, sorrisos e partilha. Sala repleta, família e amigos. Obrigada, Cristina Marques, pela belíssima apresentação que fizeste. Obrigada, Biblioteca Municipal, e em especial Graça Oliveira, pelo espaço disponibilizado e pela organização do evento. Obrigada, Isabel Pelaez, pela ilustração da capa. Obrigada Margarida Fonseca Santos pelo projeto 77palavras e pelo prefácio do livro. 
77 palavras são suficientes para contar uma bela história mas, não são suficientes para exprimir toda a minha gratidão.
Obrigada a todos os que fizeram deste momento um momento mágico.









20 de novembro de 2016

AINDA O ACORDO ORTOGRÁFICO

Estou cansada de ouvir opiniões contra o acordo ortográfico! 
Se fui a favor? Não, não fui!Todo o processo foi bem conduzido? Não, não foi! Aceitei? Tive de aceitar por imposição às escolas. Quero que volte atrás? Não, já vai tarde! 
Ricardo Araújo Pereira, pessoa que muito admiro, acabou de defender, no programa Governo Sombra, usando uma data de disparates como argumento, que se trave a implementação do AO em Portugal. 
Pergunto eu: o que acontece quando se tenta travar um carro quando vai em velocidade acelerada?
Das duas uma: se não tem outras viaturas à frente, acaba por parar, sem estragos, apenas uma chiadeira e pneus gastos. Mas, se há viaturas à frente, vai bater e fazer um grande estardalhaço. É o que vai acontecer se alguém decidir travar o que já vai adiantado e a uma grande velocidade. O AO entrou em vigor, em Portugal, há já vários anos. Os alunos que frequentam, agora, o segundo ciclo, já aprenderam a escrever com as alterações introduzidas. As editoras também o fizeram e os livros, nomeadamente os manuais, os dicionários, as gramáticas, assim como a literatura, são publicados obedecendo à mudança. 
E agora? Voltar atrás? Ensinar aos alunos mais novos que aprenderam mal? Dizer aos alunos mais velhos, que aprenderam a escrever antes do AO, que agora vão voltar à primeira versão quando foram obrigados a esquecê-la para se adaptarem à nova? Andamos a brincar à ortografia? 
E liberdade de expressão é o quê? Cada um fazer o que entende? Não concordo com o AO, logo, escrevo como quero! E são tantos que o fazem que até parece que estamos na república das bananas!!! O que vão pensar os alunos sabendo que, nas provas de avaliação, se não usarem as regras do AO vão ter grandes descontos na pontuação, porque estão a escrever com erros de ortografia, quando os outros escrevem como entendem? 
Além do mais, o que mais me irrita quando ouço os argumentos contra o AO é a falta de argumento. E, um dos exemplos mais usuais, é o espectador/espetador. Outro exemplo é o pára/para. Ambos chocam muita gente. Mas ninguém sente falta do acento em casos semelhantes. Será que sabem a que me refiro na frase "Isto vai dar uma bola"? Será "bóla" ou "bôla"?
E ainda há mais, como nestas frases: 
"Espeto o espeto na carne."
"Olho fixamente e o olho fica cansado." 
"Governo melhor a minha casa que o governo o país." 
"Quando o tempo está de seca, a roupa fica seca mais depressa." 
"Tenho uma forma com forma de sino."
"Colher flores com uma colher não dá muito jeito!"
"A sede sentida, hoje, na sede foi grande." 
"No coro, coro sempre que faço de solista." 
"Virei o molho no molho de chaves." 
E quanto me irritam aqueles que vão para as redes sociais atacar o AO por ser um atentado à língua portuguesa (a tal língua que, como escreveu o grande Luís de Camões, “Com pouca corrupção crê que é a Latina”) e, na mesma frase onde se mostram chocados pelas alterações, dão tantos erros ortográficos e pontapés na sintaxe que até dói! Como nestes exemplos:
Eu entendo-te muito bem, no entanto sempre foi contra a este acordo.”  
Foi?!!! Contra a…?!!! 
“…tens de ser despedido por justa causa. Pusestes em causa o enorme jogo…” 
Tu pusestes?!!! 
Perdoai-lhes, Senhor, a culpa é da liberdade de expressão!

6 de novembro de 2016

MEXE-TE!

Claro que ninguém te esperava. O país era escuro e não se vislumbravam dias mais espertos
Claro que todos te queríamos! E o tempo escuro que não se ia e nos sufocava! 
Claro que alguns lutavam no escuro contra os estúpidos que se achavam espertos. Tão espertos que alimentavam a estúpida ignorância.
- Mexe-te, liberdade! – disseram esses alguns. E tu chegaste, sorridente, vestida de cravo vermelho. 
E nós agradecemos: 
- És tão estúpida, ditadura. Mexe-te! Mexe-te daqui para fora!

Desafio da Margarida Fonseca Santos: 3x5 palavras no texto

4 de novembro de 2016

PASSEIO NO OUTONO


Hoje andei a passear no outono. Não tendo levado o guarda-folhas, apanhei um banho de cor.


16 de outubro de 2016

PEQUENOS FORMATOS: GÉNEROS POÉTICOS BREVES E EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA E LITERÁRIA

Este encontro vai decorrer no final de outubro e estarei lá para apresentar a comunicação "Contos breves e microcontos no ensino do português".


13 de outubro de 2016

EXERCÍCIO DE ESCRITA CRIATIVA 2

Este exercício consistia em usar as palavras sublinhadas (fornecidas 5, estas eram associadas a outras e as 10 tinham de ser incluídas). Não havia limite de palavras para a história mas as 77 vieram naturalmente...
Saiu assim:
Quem lhe concedeu poder para reinar com tanta autoridade?
Ela usa o cargo para uma subida abrupta na empresa, como elevador num prédio de cinquenta andares. E nem sequer se apercebe do medo que está a plantar e a provocar tempestades destruidoras de todo o otimismo.
Agora, todos os dias são dias de lentidão porque são sofridos. E é a passo de tartaruga que saímos de casa para trabalhar. Já não há espírito brincalhão. Morreu. Ela matou-o!...

EXERCÍCIO DE ESCRITA CRIATIVA 1

O exercício consistia em escrever durante cinco minutos seguidos, sem pausas, sem levantar a caneta. Saiu assim: 

Escrever pensamentos. Bonito! E eles onde andam? O dia está lindo, o sol espreita, o azul do céu espreita, a janela lavada, transparente, deixa que estes intrusos se intrometam na sala. Nem sequer foram convidados para o workshop e insistem em entrar, querem levar-me. Não posso chamar o segurança, de nada adiantaria, está de folga, hoje é sábado, é dia de descanso, e eu trabalho, ou melhor, deveria pôr o cérebro a trabalhar, mas ele não quer, está mais focado na janela transparente, no sol que espreita, no azul do céu que espreita, agora foi um pássaro que espreitou e piou e convidou, anda cá para fora, vem passear, ver umas montras, ou melhor, vem para o parque, estamos lá, eu, os outros pássaros da família, o azul do céu, o sol, a aragem fresca do outono. E também lá estão as folhas das árvores que começam a despedir-se e fazem um tapete que podes calcar ou deitar-te nele…

30 de setembro de 2016

LINHA 111

- Bom dia, linha 111, achados impossíveis. Como posso ser útil? 
- Estou em pânico! Desespero total! Preciso de ajuda urgente! Perdi as ideias. Todas. Não sei onde as deixei, nem onde procurá-las. Não sei o que fazer! 
- Vá com calma, tudo tem solução! 
- Onde? Como? Quando? (gritos….) 
- Vá à internet, procure o blogue 77 palavras. Lá, encontrará todas as ideias fantásticas. Apenas se arrisca a ganhar outro problema: dificuldade em escolher. Mas, para isso, pode usar outra linha!...

24 de setembro de 2016

ESCOLA CINZENTA

Na sacola, o livro e a lousa. No bolso da bata, o elástico para saltar nos intervalos. Na cabeça, os sonhos. E a vontade de conhecer o mundo. 
Mas, aprender era saber de cor todos os rios, montanhas e caminhos de ferro de Portugal (províncias ultramarinas incluídas!). Era saber rezar e costurar. Era aguentar as reguadas. Era interiorizar a passividade da mulher. Era prestar vassalagem aos ditadores que, nas molduras da parede, nos vigiavam. 
Cinzenta escola, essa!



17 de setembro de 2016

FEIRA DO LIVRO DO PORTO '16

Foi assim, a minha passagem pela Feira do Livro do Porto, ao serviço da Calendário de Letras e da Alfarroba Edições.





9 de setembro de 2016

FEIRA DO LIVRO DO PORTO 2016

Amanhã, dia 10 de setembro, estarei a marcar presença na Feira do Livro do Porto, Pelas 16h, no pavilhão da Calendário de Letras e, pelas 21h, no pavilhão da Rota do Livro (75). Apareçam!

1 de setembro de 2016

À ESPERA DO FIM

Deitada na cama à espera do fim, Adriana ralhava com a vida por não ter cumprido o tratado: viver até aos 100. Cabeça e tronco doíam-lhe como se um martelo a espancasse, mas o problema não tinha solução. Queria encontrar um refúgio onde não a encontrassem ou a deixassem, pelo menos, pensar. Sempre contornou os espinhos das rosas com que compôs os ramos que fazia. O que não contornava, agora, era a doença e a família desmembrada


Desafio nº110 da Margarida Fonseca Santos: palavras obrigatórias a negrito

29 de agosto de 2016

RELAÇÃO COMPLICADA

Relação complicada, a deles. Hábitos enraizados, velhas manias, nenhum dos dois mudava. Ela afogava a raiva no piano (e nos chocolates!); ele lançava a fúria ao mar, na praia em horas desertas. E o mar ripostou. A garrafa chutada pela onda nervosa bateu-lhe nos pés molhados. Lá dentro, um papel. Leu: 
“Queres conhecer a felicidade? 
 Começa por te aperfeiçoares interiormente. Procura dentro de ti. Aprende a encontrar. Sê aquilo que buscas no outro. Cria. Sonha. Ousa mudar.”

"LEITURA QUASE INSTANTÂNEA"

Estas caixinhas mágicas são um projeto de Cristina Taquelim para as Palavras Andarilhas 2016.
Consiste num conjunto de microcontos, em 77 palavras, de vários autores entre os quais me encontro. São eles: Isabel Zambujal, Patrícia Reis, Susana Amorim, Inês Do Carmo, José Jorge Letria, Maria João Lopo Carvalho, Teresa Meireles, Ana Paula Oliveira, Isabel Mendes de Almeida, Alda Goncalves, Paula Isidoro, Elisabeth Oliveira Janeiro, Clara Lopes, Sandra Évora, Theo de Bakkere, Carla Silva, Maria Amélia Meireles, Paula Coelho Pais.

FEIRA DO LIVRO NA PRAIA DA VAGUEIRA - ENTREVISTA


Foi assim, na feira do Livro da Praia da Vagueira, na companhia de João Cunha Silva, com direito a entrevista que pode ser ouvida aqui:










11 de agosto de 2016

GASPEADEIRA DE SONHOS

Era uma aluna brilhante, a melhor da turma. Maria de Fátima gaspeava sonhos, mas o regime de ditadura rapidamente os descosia. E não adiantou o brilhantismo do exame da quarta classe. As suas mãozinhas infantis eram necessárias para fazer entrar o dinheiro que escasseava em casa. A escola só comportava gastos. 
E foi assim que se empregou numa fábrica de sapatos onde tem arrastado toda a sua vida. É gaspeadeira*. Gaspeia o calçado, já não os sonhos. 

*Gaspeadeira: operária que deita gáspeas em calçado
Gáspea: parte dianteira do rosto do calçado que cobre o pé, e é cosida, à maneira de remendo, à parte posterior.  

8 de agosto de 2016

CLUBE DE LEITURA DE JULHO


A última sessão do Clube de Leitura, no dia 22 de julho, iniciou com a leitura do meu conto "Palavras à solta". Este pequeno conto, onde a pequena Alice descobriu a magia das palavras numa ida com a mãe a uma livraria, está inserido no livro Papá, só mais uma... e resulta dos contos vencedores do concurso "Papá, só mais uma... 2015", com seis autores.
De seguida, passou-se discussão sobre a obra Vamos comprar um poeta de Afonso Cruz. O livro que aparentemente  parece ser um conto da literatura infantojuvenil tem uma mensagem bastante mais profunda. Retrata a atualidade. A contabilidade com que se gere a vida. A quantificação de tudo, até dos sentimentos. E a urgente necessidade de combater essa desumanização com a poesia. "A poesia, diz-me ele, transfigura o universo e faz emergir a realidade descrita com absoluta precisão da ambiguidade. Nunca li um bom verso que não voasse da páginas em que foi escrito. A poesia é um dedo espetado na realidade!" 

7 de julho de 2016

"NE ME QUITTE PAS"

“Ne me quitte pas…”
A música entranhava-se-lhe. Assim que ela ouvia os primeiros acordes, todo o seu corpo estremecia, arrepiado. Cada nota coloria cada espaço cinzento do seu eu, naquela altura sempre acabrunhado. E, à medida que a melodia avançava, apaixonada, cálida, penetrante, vinha a libertação. Despejava todas as lágrimas acumuladas e, depois de anestesiados os aziagos pensamentos, perseguia ilusões, sonhos e fantasias. Voava, então. 
Jacques Brel. O seu mestre. A sua salvação. A sua ordem interior.

24 de junho de 2016

ACEITARÁ O PEDIDO?

Época de santos populares tem de ser festejada. E ele pedi-la-á em casamento!
Chega o dia das marchas. As fogueiras crepitam e os balões matizam o ar, soprados pelo vento que veio para a festa. Os manjericos vaidosos ostentam as suas quadras e perfumam o pátio. 
Muitas sardinhas e demasiadas canecas depois… 
Estão no meio do bailarico e ele mal se segura. Ela não quer ficar solteira mas, casará com um homem que lhe pisa os pés? 

12 de junho de 2016

EQUAÇÃO SEM RESOLUÇÃO

O seu casamento tornou-se uma equação sem resolução.
No início, somava o azul dos seus olhos com os sorrisos da sua boca de cereja e as suas vidas seriam retas paralelas a encontrarem-se no infinito.
Mas, números astronómicos em parcelas imensas formaram dívidas impossíveis de pagar. Depressa se tornaram num labirinto que multiplicou ressentimentos e os dividiu. Os cálculos continham erro, claramente. Dele? Dela?
Apagaria tudo e recomeçaria do zero. Só assim, tiraria a prova dos nove. 

Desafio RS nº 38 – a matemática dos dias

28 de maio de 2016

"PAPÁ, SÓ MAIS UMA" - LANÇAMENTO DE NOVO LIVRO

Foi hoje e foi mágico! Seis autores, seis contos, muitas palavras e emoções partilhadas na linda biblioteca São Lázaro, em Lisboa.









25 de maio de 2016

AJUDARIS

A Ajudaris é uma Associação particular de caráter social e humanitário de âmbito nacional, sem fins lucrativos, que luta diariamente contra a fome, a pobreza e a exclusão social. 
Há muitas formas de ajudar e de ser solidário. Uma delas é através da compra dos livros editados cujos textos são de alunos das várias escolas do país.
O mais recente livro vai ser lançado no dia 4 de junho, em Oliveira de Azeméis, com textos de crianças e jovens deste concelho. É uma honra poder dizer que aceitei "amadrinhar" este projeto a nível concelhio. Não nasci nem vivo neste concelho. Mas os afetos criam redes e, com muita satisfação, deixei-me apanhar na rede que amavelmente me estenderam. Só espero poder corresponder.

A Associação pode, também, ser seguida no Facebook.

22 de maio de 2016

QUE INVENÇÃO!

Inventaram-se naus que andaram por mares nunca dantes navegados. 
Inventaram-se foguetões, naves espaciais, satélites que andaram por espaços nunca dantes percorridos.
Inventaram-se máquinas, engenhos que curaram doenças nunca dantes curadas. 
Eu só quero inventar uma simples caixa com botões, como as máquinas que vendem bebidas. Por cada botão teclado, sai paciência, sai tolerância, sai honestidade, sai educação, sai respeito, sai concórdia. Máquina inesgotável. Tudo grátis! 
O mundo inundar-se-ia, então, de uma luz nunca dantes tão claramente vista.

 invenção que muda o mundo

20 de maio de 2016

"PAPÁ, SÓ MAIS UMA" - LANÇAMENTO DE LIVRO

Vai decorrer no dia 28 de maio, em Lisboa, o lançamento de um livro com seis histórias vencedoras num concurso literário promovido pela editora Alfarroba. A história "Palavras à solta", incluída neste livro, é da minha autoria.

14 de maio de 2016

LÁPIS ESPECIAL


Nasci precisamente na altura em que a fábrica centenária ia fechar. Pertenci ao último grupo fabricado, uma remessa especial, destinada a clientes especiais. Levados para o escritório, inadvertidamente caí e rolei para debaixo de um armário. Quando, meses mais tarde, despiram a fábrica, alguém me encontrou. Observou-me com olhos de água transparente. Guardou-me. 
Esse alguém morreu ontem. Encontraram-me na sua secretária, pequenino, gasto, encaixado nas páginas do caderno onde escrevera todos os seus poemas. O país chora-o.

SÓ O ESPANTO ABRE PORTAS AO SONHO

O microconto "Só o espanto abre portas ao sonho", baseado numa frase de Mia Couto, foi lido pela escritora Margarida Fonseca Santos, na Rádio Sim. Ouvir aqui.

2 de maio de 2016

REVISTA CAFÉ COM LETRAS

A escritora Margarida Fonseca Santos começou, há algum tempo, uma parceria com a revista Café com Letras onde dá alguns conselhos e técnicas sobre escrita, assim como vai explicando os desafios que lança para que surjam microcontos em 77 palavras. Desta vez, usou um texto meu para provar que é possível escrever um conto sem usar a letra "O". É tudo uma questão de se procurarem as palavras que normalmente não usamos e ir deixando que o texto flua.

29 de abril de 2016

LISTA DE COMPRAS...

Numa mão vai o carrinho
Na outra o papelinho
Nada poderá faltar
P’ra não ter de cá voltar.

Leite, azeite, vinho e mel
Para o pão de ló: papel
Açúcar, farinha e sal
Que lista tão trivial!

Massas, cenouras, verduras,
tomates, frutas maduras,
iogurtes, chá e café.
Vou p´ra caixa. Que banzé!

Já em casa, vamos lá,
pois então, fazer o bolo,
a receita aqui à mão.
Oh! Que grande desconsolo!
Os ovos… onde é que estão?

Desafio Escritiva nº 7 – as listas (no blogue da Margarida Fonseca Santos)

ENCONTRO COM ALUNOS NA ESCOLA SOPHIA DE MELLO BREYNER

Foi no dia 22 de abril. Uma conversa sobre livros e leituras, escrita, liberdade, escola e saber. Porque o tempo mudou e as vontades também. E é preciso que os jovens tomem consciência.