Nasci precisamente na altura em que a fábrica centenária ia fechar. Pertenci ao último grupo fabricado, uma remessa especial, destinada a clientes especiais. Levados para o escritório, inadvertidamente caí e rolei para debaixo de um armário. Quando, meses mais tarde, despiram a fábrica, alguém me encontrou. Observou-me com olhos de água transparente. Guardou-me.
Esse alguém morreu ontem. Encontraram-me na sua secretária, pequenino, gasto, encaixado nas páginas do caderno onde escrevera todos os seus poemas. O país chora-o.
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