Vemo-nos em agosto
Lido num sopro. Apesar de não ter a mestria a que Garcia Márquez nos habituou, este livro póstumo (nem sei se se pode chamar romance) lê-se com alguma expectativa para se conhecer o desenlace.
A história é incrível pela originalidade da temática e há vários aspetos das relações humanas que são questionados e nos fazem pensar.
Estou convencida que os leitores ficarão a pensar sobre o que farão as suas mulheres quando saem de casa sozinhas. E as leitoras, estou certa, questionar-se-ão muitas vezes, pois é muito fácil entrar na pele da personagem principal:
- E se fosse comigo?
- Seria eu capaz de seduzir um desconhecido?
- Seria eu capaz de me deixar seduzir?
- Seria eu capaz de viver uma noite louca?
- Seria eu capaz de ser infiel mesmo que fosse apenas uma vez por ano?
- Teria eu o direito de sair da rotina e entregar-me ao prazer, sem remorsos?
…
Deixo a cada leitora o desafio de comentar e acrescentar outras perguntas que, certamente, irão fazer comichão no cérebro.
O coro dos defuntos
É deliciosa a forma como o Portugal
rural é apresentado aos leitores. O autor entrou no mundo de Aquilino Ribeiro e
“roubou-lhe” as palavras que constam num glossário no final do livro, mas até
esse aspeto é delicioso.
As personagens encantam a prendem
o leitor à narrativa. A avó, meio maluca, meio bruxa que tanto faz partos como lava
e veste os mortos. O Manuel Rato, expulso do seminário por ler livros
proibidos, homem culto inspirado em Espinosa e que fala sozinho. A Chichona, a
velha prostituta que acaba assassinada e ninguém sabe por quem. A Olivita que
coleciona santinhos, a rapariga casta e quase invisível que se transforma em coquette. E tantas outras personagens que trazem ao romance momentos
trágicos e emotivos, mas que fazem soltar valentes gargalhadas.
A chegada da televisão à aldeia e do homem à Lua, o assassinato do negro que tinha um sonho, o transplante de um coração humano, as baixas americanas no Vietname e outros acontecimentos que ocorrem entre 1968 e 1974 surgem ao longo na narrativa de forma hilariante e com cravos vermelhos muito subtis que vão anunciando a Revolução.
Filhos da chuva
Em Domínio, a chuva não para e os relógios param nas cinco
da tarde. Numa terra sem tempo, as vidas andam todas desencontradas o que
altera a maneira de ser das personagens e até do leitor que, a certa altura, já
não sabe que tempo faz lá fora.
Logo no início da leitura, o meu pensamento voou para Saramago, nomeadamente para o seu romance “Ensaio sobre a cegueira”, pelo insólito, pela forma como as personagens têm de viver quando o inesperado acontece.
Trata-se de uma narrativa bastante densa, com personagens muito
bem construídas e de uma enorme riqueza cujas características são dadas pelos
nomes próprios, tais como Muda que percorre as ruas, carregada de sacos, o seu filho,
Amor, que vive aprisionado numa fábula que o padrasto lhe conta desde pequeno, Mãe,
mulher possessiva, que nunca deixou Filho conhecer o mundo.
Neste romance de estreia de Álvaro Curia, culpa e obsessão associam-se à coragem e à vontade de viver. Não é uma leitura fácil, a linguagem não é simples, é, aliás, bastante poética e não se entra facilmente no ritmo, demorado até meio do livro. No entanto, tem passagens que deixam o leitor arrepiado ou emocionado, divertido ou pensativo.
A capa do livro, de Juan Cavia, é, tão somente, maravilhosa!
Os meus dias na livraria Morisaki
O livro não correspondeu às minhas expectativas, nem percebo por que motivo é best seller.
Adoro livros com livros dentro, mas este não foi o caso. Demasiado fofo para o meu gosto. Lê-se bem e depressa, leitura ligeira, com conteúdo simples e sem grande intriga. Personagens pouco densas e nada empolgantes, fim previsível.
Pensei que iria viajar pelo mundo dos livros, mas esta temática foi pouco explorada e apenas a literatura japonesa é abordada, mesmo assim, sem profundidade.
No entanto, é um livro agradável para se ler na praia ou estendida numa espreguiçadeira frente à piscina.
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