Adoro quando começo a ler um romance e fico presa à história logo na primeira página. Com este livro, não foi preciso tanto, bastou o primeiro parágrafo:
“Na sexta-feira, logo a seguir ao meio-dia, quando o Sol ultrapassou o zénite e, cheio de dignidade, rolou até à extremidade ocidental do vale, Sevoiants Anatólia deitou-se para morrer.”
Esta é uma história cheia de imagens, de cores e de sabores que cativam o leitor do princípio ao fim, altura em que é desvendado o significado do título.
Esta é uma história que mostra quanto a cultura e o saber são tão necessários para compreender o mundo: “Lembrou-se de si próprio, jovem e parvo, capaz de matar, por aposta, um touro inocente – e teve vergonha. É esta a diferença entre uma pessoa culta e uma analfabeta, pensou Vassíli, afastando-se da biblioteca e voltando à sua forja quente: o culto receia destruir um ninho vazio, mas o analfabeto está pronto a dar cabo de uma criatura inocente, apenas para provar a sua força idiota.” (pg. 50)
Esta é uma história que é um hino ao amor.
Nariné Abgarian, uma escritora arménia, inspirada em Gabriel Garcia Marquez, quis contar uma história de esperança porque "o mundo precisa de beleza". E é com a beleza das palavras e das descrições que despertam tantas sensações que ela mostra Maran, uma aldeia perdida nas montanhas, assim como os seus habitantes cheios de mistérios, de crenças, com um espírito de comunidade comovente, que não viram costas ao trabalho, por muito árduo que seja: “– Não há nada mais destruidor do que a ociosidade – gostava de repetir o pai. – Os braços cruzados e o ócio privam a vida de sentido.” (pg. 64)
O ambiente vivido é de tristeza, fome, pobreza, guerra, mas também de luta, fé e esperança. Envolto em magia, neste local onde há muito deixou de haver crianças, o real e o onírico confundem-se. Aqui, o inesperado acontece porque as pessoas fazem acontecer: “Só que o homem nasce homem precisamente para duvidar, mas nunca recuar.” (pg.175)
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