Há muito que não lia um livro tão compulsivamente. Uma tarde de sábado foi quanto bastou. Mulheres que não perdoam, de Camilla Läckberg, têm fortes motivos para não perdoar e levam-nos numa corrida vertiginosa até à última página.
Os capítulos curtíssimos contribuem para essa rápida corrida, assim como a alternância das histórias das três mulheres que, não se conhecendo, urdem o plano perfeito para acabarem com os respetivos maridos que as maltratam, física e psicologicamente, as humilham, as tratam como objetos num desrespeito contínuo que nenhum ser humano pode suportar, apesar da promessa “vou amar-te para sempre”.
Um livro que não deixa os leitores indiferentes e os coloca numa posição de grande parcialidade sempre na esperança que o plano dê certo e a vingança das mulheres se concretize.
“Os bairros residenciais de vivendas eram prisões femininas sem muros, onde as mulheres permaneciam presas por obrigação ou por amor aos filhos. Ingrid não a assassinar um homem, mas libertar uma mulher. Tal como ela se libertara com a morte de Tommy.”
O romance não é, efetivamente, uma obra-prima da literatura, mas aborda temas muito atuais que são denunciados de forma crua, chocante, tal como o é a sociedade. Para tal, Camilla Läckberg inspirou-se no movimento #MeToo para deixar um recado: as mulheres não se devem resignar quando abusam delas e há formas de sair dessas situações de dor e agressão.
É evidente que, neste livro, a forma de sair dessa situação não é a mais pedagógica, mas também não é esse o objetivo, certamente. Sendo um romance policial, o enredo superou a pedagogia. Consideremos o método usado pelas mulheres uma metáfora; nas entrelinhas, leia-se um mensagem de esperança para a solução do problema de tantas mulheres vítimas de violência doméstica.
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