Hoje senti-me mal. Terrivelmente mal!
Precisei de meia hora de estacionamento para o meu carro. Meia
hora que tive de pagar. Fosse esse o mal maior!
Último dia do ano. Época de balanços. E a balança tombou
pesadamente para o lado da miséria.
Enquanto punha umas moedas nos parquímetros, uma velhinha aproximou-se
a pedir dinheiro para dar de comer aos três netos e à filha. Eu alimentava a máquina.
Ela não tinha com que alimentar a família. Tão velhinha, deveria ter quem se
preocupasse com ela, não deveria ser ela a estar preocupada com os seus.
Uns metros à frente, um polícia vigiava ferozmente os carros
estacionados. E multava todos os que não exibissem o papelucho das malditas
maquinetas. Alguns condutores teriam ido, provavelmente, apenas tomar um
simples café ou dar um rápido recado. E o dia saiu-lhes caro. E os polícias
agiram assim, na véspera de Natal e hoje, também! Como lobos esfaimados atrás
da presa. Mas, fosse esse o mal maior!
A velhinha continuou vagarosamente o seu percurso. Na rua continuava a
ouvir-se uma suave melodia de Natal. “Noite Feliz! Noite Feliz”. Porém, as moedas
não entravam no seu bolso, para que ela tivesse o vislumbre de alguma
felicidade. Tinham outro destino. Para alimentar quem? O que se faz com o dinheiro
que as máquinas engolem diariamente? Serve o bem-estar social? Ou alimenta ideias
megalómanas?
Porque o espírito natalício ainda paira por aí e hoje é o
último dia do ano e todos desejam um feliz-ano-novo a todos, só apetece dizer: Glória-a-Deus-nas-alturas-e-paz-na-terra-aos-homens-de-boa-vontade.
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