Gostaria de te dizer, caro Luís, que o meu amor por ti foi um amor à primeira vista, mas tal não aconteceu. Foste-me apresentado nas aulas de Português, era eu uma catraia, mas não me foi mostrada a tua genialidade nem a grandiosidade da tua obra. Tu eras o chato que tinha escrito frases complexas cheias de orações para dividir, cheias de conjunções para classificar. Não me mostraram o quanto a tua epopeia é fabulosa, mas fizeram-me descobrir o quanto ela está recheada de “ques” difíceis de classificar. “O fraco rei faz fraca a forte gente”, escreveste tu. E digo eu: o fraco pedagogo faz fraco o forte aluno.
Conheci-te verdadeiramente e, por fim, por ti me apaixonei, mais tarde, mais velha, quando comprei a tua obra completa (a tal onde habitas em destaque nas estantes da minha biblioteca) e nela mergulhei de cabeça (e coração!). E descobri, então, os teus sonetos, as tuas endechas, as tuas redondilhas... E Os Lusíadas! Que obra de génio!
“Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, lá o disseste, mas o tempo não te desgastou, antes pelo contrário, as tuas frases saíram da tua obra, foram apropriadas pelos falantes atuais e continuam a enriquecer o património linguístico desta “ocidental praia lusitana” que, “cantando e rindo” tão longe chegou e, “se mais mundos houvera, lá chegara”.
Hoje, como professora, quero que os jovens te conheçam e te leiam e te respeitem, te citem e te imitem. Quero que aprendam contigo a amar a língua portuguesa e a valorizar a nossa História, os nossos valores, o nosso património, em suma, a “ditosa pátria minha amada”. Quero que se inspirem em ti e, como tu, lutem contra todos os obstáculos, com ousadia, sem medo de enfrentar os Adamastores desta vida, pois “nos perigos grandes, o temor é muitas vezes maior que o perigo”. Quero que apreciem a leitura, e a arte em geral, tendo em conta que “quem não sabe a arte, não a estima.” Parece utópico, não achas?
“Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las.”, escreveste tu. Não poderia estar mais de acordo contigo. Mas estes meus desejos não são uma irrealidade. É possível fazer acontecer. E, “com engenho e arte”, se vai espalhando a tua obra!
“Enfim, tudo passa/não sabe o Tempo ter firmeza em nada/e a nossa vida escassa/foge tão apressada”. Por isso, antes que o tempo de cada um passe definitivamente, há que agarrar o que nos preenche, o que nos anima, o que nos alimenta. Refiro-me, obviamente, aos livros escritos por aqueles que, como tu, nos deixaram o seu legado e que com “obras valerosas/Se vão da lei da morte libertando”.
Texto publicado na revista online "A casa do João"
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