Texto escrito para a revista online A Casa do João.
27 de janeiro, dia do aniversário da libertação do Campo de Concentração e Extermínio Nazi de Auschwitz-Birkenau, é dia de lembrar que milhares de pessoas foram vítimas da intolerância levada a extremos.
Uma data que não deveria existir. No entanto, o Holocausto existiu. E, por ter existido, não pode ser esquecido. Não lembrar o passado é um passo para o repetir.
Foram assassinadas milhões de pessoas em nome da pureza da raça ariana, vítimas da sofreguidão de um homem. Hitler chegou ao poder legitimamente com promessas que convenceram. E destruiu a Europa.
Analisando o estado do mundo atual, tudo leva a crer que a História se pode repetir. Os ditadores andam aí, mais ou menos disfarçados de salvadores da pátria, e a enorme crise, desencadeada por uma situação de pandemia, faz os mais crentes (leia-se ingénuos, ignorantes, ou simplesmente cansados da política e dos políticos) acreditarem que, realmente, irão mudar o mundo assim que chegarem ao poder. Engano perigoso!
Há uma urgência em criar mais humanidade. O Holocausto é o exemplo de um período negro de desumanidade, de atrocidades, de violações constantes dos direitos humanos. Um exemplo que gente de bem não quer repetir. O Holocausto existiu. Não foi inventado por escritores nem por realizadores.
Sempre acreditei que a literatura, e as artes em geral, a par da História, poderiam humanizar o Mundo. E continuo a acreditar. Mas, para isso acontecer, teriam de ser “consumidas” por todos.
Costumo dizer aos meus alunos que toda a gente, sem exceção, deveria ler, pelo menos, um livro sobre o Holocausto. E visitar os campos de concentração na Polónia. Para perceber o que se passou. Para saber o que é ter, verdadeiramente, fome, sede e frio. E saudade! Para saber o que é estar doente e não ter direito nem a assistência médica nem a medicamentos. Para sentir os maus odores. Para sentir a dor da separação, do cativeiro e da tortura. Para sentir o desespero e o medo. Para se lembrar que, mais do que nunca, se torna necessário combater o antissemitismo, o racismo e quaisquer outras formas de intolerância que possam levar à violência. Para não seguir discursos de extremistas que apenas conduzirão, mais tarde ou mais cedo, à destruição da democracia e da paz.
Para isso, e na impossibilidade de viajar, é preciso ler. Os livros dedicados ao tema do Holocausto levam-nos a um passado recente de terror, de barbárie e desumanidade. Lendo-os, temos a obrigação de aprender e impedir que a História se repita.
Os livros e filmes que abordam o tema do Holocausto são muitos e têm vindo a proliferar. Todos chocantes. Todos emocionantes. Todos capazes de levar à reflexão. Todos bons exemplos daquilo que não se deve repetir. Nunca mais!
De entre tantos, saliento e aconselho quatro autores que têm escrito recorrentemente sobre o Holocausto:
Primo Levi participou na Resistência, foi preso e internado no campo de concentração de Auschwitz. Notabilizou-se pela autoria de vários livros sobre a experiência naqueles campos, uma experiência que o marcou profundamente. De acordo com as suas próprias palavras, o seu símbolo “é a tatuagem que até hoje trago no braço: o meu nome de quando não tinha nome, o número 174517. Marcou-me, mas não me tirou o desejo de viver. Aumentou-o, porque conferiu uma finalidade à minha vida, a de dar testemunho, para que nada semelhante alguma vez volte a acontecer. É esta a finalidade que têm os meus livros.»
Entre os seus títulos encontram-se Se isto é um homem, Assim foi Auschwitz, escrito com Leonardo De Benedetti, Se Não Agora, Quando?, Os Que Sucumbem e os Que Se Salvam.
Morris Gleitzman (o seu site pode ser consultado em https://www.morrisgleitzman.com/) é um autor com vários livros cujo tema é o Holocausto. Um dia, Em breve, Depois, A seguir, Talvez são cinco dos títulos publicados e dirigidos a um público juvenil para que entenda os horrores da guerra.
João Pinto Coelho, um autor português, e um dos vencedores do prémio Leya, também se tem dedicado ao tema do Holocausto através de uma visão original e criativa. O seu último livro Um tempo a fingir, foi publicado recentemente e vem na sequência dos anteriores Perguntem a Sarah Gross e Os loucos da rua Mazur.
Ilse Losa nasceu na Alemanha. Por ser judia, viu-se forçada a sair do seu país pelo que se refugiou em Portugal, onde casou, adquirindo a nacionalidade portuguesa.
O mundo em que vivi, Rio sem ponte, Sob céus estranhos, e alguns contos integrados em Caminhos sem destino são as obras publicadas que retratam o Holocausto.
Para concluir, e como é de pequenino que se aprende, destaco o meu livro de eleição, dirigido a um público infantil, aquele que não me canso de ler aos meus alunos, tenham eles a idade que tiverem, aquele que me embarga a voz e me humedece os olhos sempre que o leio, aquele que deveria estar em destaque em todas as bibliotecas do mundo: Fumo, de Antón Fortes, com belíssimas e intensas ilustrações de Joanna Concejo, da editora OQO.
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