...a um mundo a transbordar de amigos!
Branca
de Neve. Cinderela. Aurora. As primeiras amigas. Com elas percorri salões de
palácios magníficos, frequentei animados bailes cheios de luz e de cor e até
dancei com príncipes! Foram dias magníficos de fantasia e diversão.
Os
três porquinhos. O gato das botas. O gato Pompom. Crina Branca. Os amigos de
quatro patas que não tinha em casa estavam nos livros. Com eles e com elas,
preenchia os meus dias de uma infância feliz, quase sem televisão nem
parafernália de jogos computorizados.
Cresci.
Estes meus amigos e amigas não quiseram crescer comigo. Foram fazer outros
amigos, mas deles ficaram guardadas as lembranças doces, bem fundo.
Outros
amigos surgiram, ainda mais aventureiros!
Quanta
adrenalina com os cinco amigos Júlio, Ana, David, Zé, e o seu cão! Quanto
divertimento com as gémeas no colégio das Quatro Torres e no colégio de Santa
Clara! Quantas aventuras vividas em cheio com os Sete!
Veio
a adolescência. Romance. Amores. Sofrimento. Finais felizes.
Brigitte,
Isabel, miss Grey, Margarida, Diana, Catarina, a Menina Aguaceiro, as
mulherzinhas Zé, Gui, Melita e Bel eram agora as minhas melhores amigas e
povoavam os meus sonhos e ilusões. Preenchiam por completo a minha vida. A mãe
podia chamar, as irmãs gritar e o mundo desabar. Nada. Só a elas ouvia, só com
elas convivia, sofria ou ria.
O
tempo foi passando inexoravelmente e a lista de amigos crescia, aumentava,
engrossava...
Foi
então que surgiu na minha vida o surrealista e inconformista João Sem Medo.
Veio também o escravo Pai Tomás mostrar-me a violência da História.
E
os anos passavam...
Como
sofri com Maria quando o Romeiro apareceu!
Como
chorei, solidária, com Teresa e Simão Botelho!
Que
famílias injustas as de Romeu e Julieta!
Que
crueldade, a partida que a vida pregou a Carlos da Maia e Eduarda!
E
aprendi mais. Aprendi que há sofrimentos maiores do que o do amor!
Prisão.
Tortura. Pobreza. Miséria...
Como
gostaria de tirar da miséria o Gineto e seus amigos de rua e poder salvar os
meninos desprovidos de tudo apenas donos da areia da praia.
Como
gostaria de dar a liberdade aos amigos que a perderam apenas por lutarem,
justamente, contra as injustiças, por quererem aquilo a que tinham direito.
Jofre, Carlos, João, Mariana e outros tantos resistentes apenas queriam um
mundo melhor, livre.
Por
essa mesma liberdade lutou o filho de Pelageya. Como sofreu esta mãe e me fez
sofrer!
Como
doeu a falta de liberdade de Anne Frank! Uma adolescência privada de tudo o que
a adolescência tem de bom. Uma vida perdida vítima de tiranos assassinos.
Pobre Jean Valjean,
sempre fugido!
Encontrei,
também, outro tipo de falta de liberdade. Esta, voluntária, sem razão de ser,
sem pretexto nem desculpas. Christiane F. é toxicodependente. Filhos da droga,
muitos, levaram-me a ver esse mundo de decadência e degradação física do qual
não há retorno. Morte, apenas! Vi. Aprendi.
Vi também outra dependência: a do jogo. Casino,
roletas, dinheiro perdido, infelicidade. Alucinação! Foi Alexis Ivanovitch que
me apresentou este mundo completamente desconhecido e impensado, até então.
Os livros permitiram sempre a viagem a mais um
mundo: o do crime calculado, frio, insensível. Mas eram convidados os meus
amigos Poirot, Miss Marple e Sherlock Holmes para os deslindarem. E faziam crescer,
de forma bem inteligente, a expectativa até à última página.
Depois de tanta emoção, os amigos divertidos e
brigões apareciam para descontrair e fazer rir. Sempre prontos para mais uma
sessão de pancadaria nos romanos, lá estavam Astérix e o gordo Obélix. Gordo?
Perdão, gordo não, cheio de peito. E lá estavam, também, a contestatária
Mafalda. A irreverente Guidinha. O traquina Nicolau.
Hoje
sou adulta. A lista de amigos não pára de crescer. Cada vez mais sofisticados,
mais complexos.
A
papisa Joana tão corajosa e lutadora. Guilherme de Baskerville tão inteligente
e perspicaz. Como se tivesse entrado numa máquina do tempo, eles levaram-me à
Idade Média.
Vianne
Rocher, Júbilo e Lucha, Tita e Pedro levaram-me ao império dos sentidos...
E
o desfile continua. Blimunda e Baltasar. Montag, o incendiário de livros. O
fiel Florentino Ariza. A fria e traidora Teresa Raquin. O desesperado e infeliz
Raskolnikov. A selvagem Eva Luna. O espantoso e fascinante Petter, a Aranha,
vendedor de histórias. O severo professor Crastaing. O hediondo Jean Baptiste
Grenouille.
Mais recentemente, e a idade isso permite, outros seres vieram engrossar a lista: Simon Axler e senhor Ulme , apresentam a realidade nua e crua do envelhecer. Carlos Brauer faz-nos percorrer a literatura universal. Eszter faz-nos ver a manipulação existente no mundo que nos rodeia.
E tantos outros. Sem fronteiras, vencendo a geografia sem mapas nem GPS, fui criando laços. Estes meus amigos nunca me abandonaram. Estão sempre lá. Na saúde ou na doença, nas férias ou no trabalho, na solidão ou no meio do barulho, são a melhor companhia, um refúgio, uma animação. Ou, simplesmente, evasão. E todos eles, que me mostraram tantos mundos, fizeram-me criar o meu próprio mundo, fizeram-me criar as minhas estórias, que, agora, levo aos outros partilhando o que tenho dentro de mim.
Levou-me um livro?
Não! Levaram-me muitos.
Mais recentemente, e a idade isso permite, outros seres vieram engrossar a lista: Simon Axler e senhor Ulme , apresentam a realidade nua e crua do envelhecer. Carlos Brauer faz-nos percorrer a literatura universal. Eszter faz-nos ver a manipulação existente no mundo que nos rodeia.
E tantos outros. Sem fronteiras, vencendo a geografia sem mapas nem GPS, fui criando laços. Estes meus amigos nunca me abandonaram. Estão sempre lá. Na saúde ou na doença, nas férias ou no trabalho, na solidão ou no meio do barulho, são a melhor companhia, um refúgio, uma animação. Ou, simplesmente, evasão. E todos eles, que me mostraram tantos mundos, fizeram-me criar o meu próprio mundo, fizeram-me criar as minhas estórias, que, agora, levo aos outros partilhando o que tenho dentro de mim.
Levou-me um livro?
Não! Levaram-me muitos.
Sem comentários:
Enviar um comentário