Para mim deixou de haver amanhã. Os móveis foram doados, a poltrona ficou sem serventia, destroçada. Nela, Emília foi pedida em casamento, descansou, mal regressou das núpcias, sentiu as dores de parto, amamentou a filha, observou-lhe as brincadeiras, chorou, riu, morreu.
Eu e ela. Abandonadas, nós que testemunhámos tanta vida. Encostado a mim, como um espectro, José nem se apercebe que tudo tem um fim. O Alzheimer permitiu-lhe esquecer as perdas. Vai partir para o lar. Inevitável.
Desafio nº 98 da Margarida Fonseca Santos:
conto a partir da fotografia de Pedro Teixeira Neves
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