27 de julho de 2012

VERÃO E PIQUENIQUES


ilustração de Shuai Mei


Um piquenique só é perfeito com…
a música dos pássaros
o sussurrar de um riacho
o sol a espreitar por entre as árvores, a fazer-se convidado e a aquecer a preguiça
água fresca para atrasar o calor e lavar a fruta
algo ou alguém que saiba dizer palavras doces e me embale num sono reparador…

20 de julho de 2012

SEXTA-FEIRA 13

Que mais se poderia esperar de um desafio com o número 13, redigido numa sexta-feira? Maluquice, claro!

O facto de ser francesa e a provocação do nome “Jalousie” derreteu-lhe os sentidos. E em promoção, melhor ainda!
Sentou-se numa pequena mesa redonda da esplanada e despiu-a, primeiro com o olhar guloso, depois com os lábios, língua e dentes salivados de prazer. Não demorou muito a devorá-la, tal o desejo que o seu aspeto lhe provocou.
Horas depois desmaiou. Acordou no hospital com uma impertinente salmonela.
Que mais poderia esperar de uma sexta-feira 13? Era barata…!  

desafio nº13 da Margarida Fonseca Santos (blogue 77palavras)

14 de julho de 2012

CONVERSAS QUE MAGOAM


Há conversas que magoam. Não porque sejam insultuosas ou rebaixantes. Magoam porque revelam uma realidade tão cruel que até dói. Esta, ouvida, hoje, na caixa de pagamento do hipermercado, não foi propriamente uma conversa. Começou por ser um monólogo que a menina da caixa transformou em diálogo, penso que por obrigação ou mera simpatia, pois era eu que estava a ser atendida. O monólogo começou atrás de mim. Uma senhora de aspeto humilde e envelhecido, (certamente de idade inferior à que aparenta), exclamou:
- As cenouras estão por um preço que não se pode. Subiram para o dobro. Ainda há pouco estavam a 30 ou 35 cêntimos e, agora, estão a 75.
E continuou, sozinha, a desfiar o rosário dos preços altos.
Ao fim de algum tempo, a menina da caixa comentou:
- Já estão a esse preço há uma semana. Não sei se há falta e, por isso, o preço subiu.
A senhora continuou:
- Não se admite! Subiram para o dobro. Nem levo!
Paguei e saí, sem abrir a boca, incomodada e culpada. Eu levava cenouras e não sabia o preço delas.

12 de julho de 2012

MENTIRA


ilustração de Russ Mills

Mentira. Foi tudo mentira.
Foi mentira as promessas que fizeste.
Foi mentira o projeto que criaste.
Foi mentira as palavras açucaradas, os olhares faiscantes. Foi mentira os beijos roubados, os passeios inventados. Foi mentira o sorriso que me roubou o coração.
Ah! Mas o pior não é isso. Dei tanto de mim e agora sinto-me usado, gasto como um trapo velho sem valor nem serventia.
Em fumo se desfez a minha ilusão! Quão amarga é a mentira!

Desafio nº12 da Margarida Fonseca Santos, blogue 77palavras
(usar a mesma palavra pelo menos seis vezes)

5 de julho de 2012

ENTREVISTA

Os meus alunos são umas pestinhas mas até que me fizeram uma entrevista interessante!


Ana Paula Oliveira é professora de Português na Escola Básica de Arrifana onde é, também, bibliotecária. Publicou dois livros intitulados Do cinzento ao azul celeste, em abril de 2009, e O santo guloso, em janeiro de 2012. 
- Quando decidiu iniciar uma carreira como escritora? 
- Não foi uma decisão, foi um acaso, e nunca pensei que as histórias escritas passassem a livros. Alguns dos meus contos chegaram à editora Calendário de Letras através de uma amiga e a editora decidiu apostar num, de que gostou, e o primeiro livro foi publicado. 
- Alguma vez se questionou como seria a sua vida se não se tornasse escritora? 
- Não, nunca me questionei porque sou escritora apenas nas horas vagas e quando a inspiração chega; escrevo umas histórias mas sou essencialmente professora, essa é a minha profissão. 
- O seu maior sonho de criança era ser escritora? 
- Não, nunca foi um sonho, mas sempre gostei de escrever e fazia composições interessantes pedidas pelas professoras de português. Lembro-me que, quando andava no sexto ano, me levantei uma noite para escrever um texto, cuja ideia me surgiu naquele momento, e a professora não acreditava que tinha sido eu a escrevê-lo, o que me deixou muito frustrada. 
- Como se inspira para a escrita? 
- Olhando ao meu redor, observando o que se passa, lendo muito, uma vez que as minhas leituras também são fonte de inspiração, fazendo pesquisa. O meu primeiro livro, por exemplo, resultou de uma pergunta feita por um aluno: “Por que motivo temos de andar tanto tempo na escola?” Esta pergunta originou uma resposta que posteriormente foi transformada numa história sobre a escola e a vida antes e depois do 25 de abril de 1974. 
- O que procura despertar com os seus livros? 
 - Pretendo motivar para a leitura, inspirar os alunos e divertir-me. Aliás, comecei a escrever mais seriamente sempre que pedia aos alunos para escreverem um texto. Para lhes provar que não pedia nada do outro mundo, era eu a primeira a escrever, para dar o exemplo. Assim, os meus alunos passaram a ser as minhas “cobaias” e os primeiros ouvintes das minhas histórias. 
- É difícil escrever um livro? 
- É. Dá trabalho, exige esforço e concentração, imaginação e, sobretudo, tempo muitas vezes roubado à família. 
- Escreve ficção ou inspira-se em factos reais? 
- As duas histórias publicadas baseiam-se em factos reais mas tenho histórias escritas completamente inventadas. 
- Imaginaria a sua vida sem livros? 
- Nunca!!! Os livros fazem parte da minha vida desde sempre. Sempre tive livros em casa, desde a infância, sempre procurei livros nas bibliotecas, compro livros, trabalho com livros, tento criar leitores e provar que quem lê é muito mais feliz e consegue viver várias vidas: a própria e a de todas as personagens. 
- Pensa criar outro livro? 
- Tenho outras histórias escritas mas não sei se vão passar a livros. Isso vai depender da editora que, por sua vez, irá decidir a publicação de outro livro de acordo com a reação dos leitores. Se os dois livros publicados tiverem boa aceitação e venderem bem, poderá ser que se publique mais algum ou alguns.
 - Quando era criança e adolescente, que livros gostava de ler? 
- Naquela altura não havia a quantidade de livros nem de autores, sobretudo portugueses, que há hoje. Lia tudo da Enid Blyton e coleções como, por exemplo, Biblioteca das Raparigas e Biblioteca da Juventude. Mais tarde, já quase a terminar a adolescência li vários autores russos e franceses. 

 Muito obrigada pela sua disponibilidade, esperamos que tenha muito sucesso.

Turma 8ºCEFB
ano letivo 2011/2012



4 de julho de 2012

ARREPENDIMENTO

Desta vez, o texto é uma parceria com a minha mãe.

ilustração de Adão Cruz

- Bateste à minha porta, poesia! Voltei-te as costas, não te recebi. Não quis pensar em nada, apartou-se de mim qualquer magia.
- Quis inundar-te, não me recebeste! Disseste-me não!
- Minhas mãos, de trabalho, estão cansadas.
- Podias descansar em mim!
- Minhas ideias, de oprimidas, ficaram pardas.
- Quis iluminar-te o pensamento!
- Cheio de dor está o meu pobre coração.
- Quis serená-lo, não me atendeste!
- Agora, arrependida, sinto dor. Não atendi o teu apelo, fui cruel.
Partiram, então, em direções opostas.

desafio nº11 da Margarida Fonseca Santos, no blogue 77palavras

3 de julho de 2012

EM DIREÇÕES OPOSTAS

 ilustração de Anna Walker

– Longe vão os tempos em que não nos separávamos! Transformávamos o dia numa festa permanente apenas refreada pelo remanso da noite.´
–Tínhamos a guitarra como nossa testemunha…
– Escrevíamos poemas rimados, compúnhamos baladas…
– Cantávamos em uníssono, vozes afinadas pelo diapasão do coração.
– Lembras-te? Criámos a nossa canção, a palavra-passe para entrada num mundo onde tudo parecia perfeito e imutável e, (eu convencido!), caminhávamos para um futuro mais-que-perfeito…
– Que não chegou a ser futuro!
Partiram, então, em direções opostas.

desafio nº11 da Margarida Fonseca Santos, no blogue 77palavras